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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Entrevista AfroReggae

'O governador não merecia um banho de sangue', diz líder do Afroreggae

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Diretor do grupo Afroreggae, José Junior, falou sobre a negociação com os traficantes do Complexo do Alemão (Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo)

RIO - Era 1h30m de sábado, depois da tomada da Vila Cruzeiro pela polícia, quando o coordenador do grupo AfroReggae, José Júnior, de 42 anos, recebeu o telefonema de um dos chefes do Complexo do Alemão, convidando-o para conversar no alto do morro. Não foi fácil para Júnior atender ao chamado de pronto, uma vez que, há 40 dias, descobrira que era a "bola da vez", sentença decretada justamente pelo bandido que lhe fazia o convite. Não subiu o morro de madrugada, mas por volta de 10h, lá estava ele, no coração da comunidade, cercado por 60 traficantes. Segundo Júnior, todos com medo de morrer ou de ir para cadeia. Embora assegure não ter mediado a rendição, o resultado de "suas sugestões", como fez questão de dizer, ajudaram no sucesso da operação: o fim da guerra sem banho de sangue.

( Veja trechos da entrevista )

Você foi o mediador entre o governo do estado e os traficantes para acabar com a guerra no Complexo do Alemão?

JÚNIOR: Não. Não podia ser o interlocutor. Não estava representando o governo, nem os bandidos. Não queria ser porta-voz de ninguém. Fui lá para fazer algumas sugestões. Achei que podia ajudar as pessoas e evitar um banho de sangue. Eles me chamaram para conversar e eu fui lá por conta própria. Até mandei um e-mail para o governador Sérgio Cabral para isentá-lo de qualquer coisa, caso algo acontecesse comigo.

Que tipo de sugestões você fez?

JÚNIOR:Para eles se renderem, porem a mão na cabeça.

Como foi o encontro com os bandidos? Eles estavam dispostos a se render?

JÚNIOR: Chegando lá, o clima tava muito tenso. Vi pessoas muito abaladas, com muito medo de morrer e de ficarem presas. Ouvi bastante. Disse que podia estar presente para dar segurança para eles. Tinha a palavra do Allan Turnowiski (chefe de Polícia Civil) de que ninguém seria humilhado ou seria morto. É o que está acontecendo. Eles diziam que não queriam se entregar, que era difícil, teriam que puxar uma cadeia longa (ficar muito tempo preso). Então eu disse: se não se entregarem, vocês vão morrer. Alguns se emocionaram muito.

Então, teve acordo?

JÚNIOR: Não teve acordo. Sugeri que se entregassem às polícias ou às Forças Armadas, depusessem as armas e não reagissem. Falei que não podiam descer comigo. Não tive pena. Falei que eles haviam buscado isso.

Por que os bandidos da comunidade escreveram numa carta que queriam matá-lo?

JÚNIOR: Porque meu trabalho social à frente do AfroReggae incomodava.

Você ficou preocupado com essa ameaça?

JÚNIOR: Eu tive um sentimento ambíguo. Fiquei chateado, pois eu tinha virado a bola da vez. Mas, ao mesmo tempo, a carta demonstrou o quanto eu incomodava. Tenho certeza que quando o Márcio (dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP) recebesse a carta, em Cantanduvas (Presídio Federal do Paraná), ele ficaria chateado e seria contra qualquer atitude contra mim. Foi uma atitude isolada de dois bandidos. Não era decisão da facção.

Você teve medo de morrer?

JÚNIOR: Tenho 18 anos de AfroReggae e quatro filhos. Aquela carta me incomodou. Mas muitos moradores pediram para eu ir lá, embora integrantes do AfroReggae e policiais amigos meus desaconselhassem.

Algumas pessoas queriam que os bandidos fossem mortos, em vez de serem presos. O que você acha disso?

JÚNIOR: Recebi mais de 9 mil mensagens pela mídia sociais. Cerca de 8.800 a favor da rendição dos bandidos. Mas também cheguei a ouvir policial dizer que se sentiu como um atleta que vai para a Olimpíada e não disputa, só porque não houve banho de sangue.

De quem é o mérito pelo resultado positivo da operação do Alemão, sem baixas dos dois lados?

JÚNIOR: Do governador Sérgio Cabral e da polícia. Digo isso com a maior pureza da minha alma, como costumam dizer as carolas. Até agora, 18h14m (de domingo), a polícia teve um comportamento impecável. Várias pessoas me ligaram do Alemão e elogiaram a postura do Bope e da Core. Até pessoas que não gostam da polícia. Queria ajudar o governador. Ele não merecia um banho de sangue durante o seu governo.

Qual a sua análise geral para o desfecho na guerra contra os bandidos?

JÚNIOR: O próprio bandido está cansado, pois eu nunca tirei tantas pessoas do crime como tiro agora. Pessoas novas e pessoas mais velhas. Tenho orgulho de ter tirado muitos traficantes do crime. No AfroReggae, temos 10 excepcionais mediadores. Todos eles atuaram no crime antes.

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