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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Abre alas para o cinemão brasileiro


Resenha do filme Reza a Lenda


Quando assisto um filme de aventura, de ação, eu gosto de prestar atenção às armas. Acho que a escolha das armas diz muito sobre como a produção quer tratar o público que está acostumado com o gênero – os insiders. Reza a Lenda passa por esse teste. E passa por mais testes. Acabei de voltar do cinema e não consigo parar de pensar nas possibilidades que esse filme abre para o cinema nacional.

Quando é que alguém, há 10 ou 20 anos, iria imaginar um filme brasileiro em que alguém usasse uma minigun (uma metralhadora no estilo Gatling, uma M134, calibre 7,62 com barragem de tiro traçante) uma arma típica de filmes de guerra estilo Vietnã, filmes de Rambo ou Schwarzenegger?

Estávamos no auge da herança cinemanovista/nouvelle vagueriana de Glauber Rocha, com seus herdeiros destilando veneno contra o cinemão norte-americano, dizendo que a sétima arte tinha como única função doutrinar o proletariado na luta de classes. O que escapava disso eram os agraciados pela Embrafilme torrando dinheiro público na loteria de ganhar prêmios de crítica. Público? Nem pensar! Fazia-se filme para os amigos.

E enquanto o cinema brasileiro havia virado um clube de intelectuais engajados, o cinema norte-americano doutrinava o mundo e... quem diria, os brasileiros.

Acontece que o público, no final das contas, move o cinema. Os franceses, que inventaram a Nouvelle Vague e tornaram o termo “filme francês” um sinônimo de “filme hermético, cabeça, autoral”, acabaram descobrindo que nem só os americanos podiam fazer histórias de alcance universal.

Os heróis de capa e espada, de pistola na cintura e chicote na mão não eram propriedade exclusiva do cinema norte-americano. Descobriu-se que a aventura, a ação, era coisa de seres humanos contando histórias de suas caçadas de mamutes, os dramas vividos na guerra, as lutas contra os clãs do outro lado da montanha. Com isso, o cinema francês foi um dos primeiros a mandar às favas o preconceito de fazer cinemão.

Hoje em dia, no Brasil, depois de Tropa de Elite 1 e 2, 2 Coelhos, Federal, Segurança Nacional, Operações Especiais, estreia Reza a Lenda e bota o pau na mesa e diz: “podemos fazer filme de ação, ter heróis falando em português, reinventar a realidade e – sim – divertir bastante”.

O diretor Homero Olivetto, que divide o roteiro com Patrícia Andrade e Newton Canitto, entregou um filme enxuto, vigoroso e empolgante. Cada integrante da produção, dos roteiristas ao iluminador, figurinista, o que quer que seja, está de parabéns porque fez história.

E por que fez história? Isso é um exagero? Não, pois o filme realmente será considerado um divisor de águas, a obra que separa o tempo em que realizadores se obrigavam a entregar um trabalho que tivesse cunho social, que fosse necessariamente moralmente ambíguo e tivesse qualidade técnica aceitável.

1.       Reza a Lenda não é moralmente ambíguo: a linha que divide mocinho e bandido, protagonista e antagonista, é clara. Nada de ficar justificando que o protagonista é um anti-heroi, mimimi, etc. Ara, vivido por Cauã Reymond é um herói, e ponto final.

2.       Reza a Lenda pincela uma preocupação social, mas não é didático, não é engajado. O drama social está lá pelo mesmo motivo que as crianças estão trabalhando escravizadas em túneis em Indiana Jones e o Templo da Perdição: está lá para ser tratado como vítima, para existir algo que o herói deva salvar.

3.       Tem uma baita qualidade técnica. E a minigun (mais uma vez) se encaixa neste quesito. Qualidade técnica é respeito com o público.

Apesar de todos os seus pontos positivos, Reza a Lenda tem um defeito: ser um dos primeiros filmes do gênero no Brasil. Como primeiro a chegar, causa estranheza, bate de frente com um público acostumado a ver heróis que se chamam Jack, Thomas, e que se digladiam com inimigos em cenários estranhos para nós, vivendo dramas que às vezes nem sabemos se realmente existem, mas acabamos acreditando por estarmos acostumados a isso.

Como tive a honra de falar ao próprio Homero Olivetto, em conversa após ter saído do cinema, o boca a boca vai fazer a carreira de Reza a Lenda. A resistência ao produto nacional vai cair a cada pessoa que assistir o filme e sair de lá dizendo: “Caramba, não é que é bom mesmo??? Não é que eu me diverti mesmo? Não é que não fica nada devendo a filmes estrangeiros do mesmo gênero e patamar de produção?”

Assim, Reza a Lenda vai ocupar seu espaço, cumprir sua missão de abre alas do nosso cinemão, que já está se especializando em comédias e tem mostrado bons resultados em filmes policiais (apesar de serem, por enquanto, de uma nota só, com uma mesma temática).

Como já se dizia, no final do século passado, reza a lenda que o cinema brasileiro ainda vai ter herois. Quem sabe eles possam ajudar a formar uma sociedade menos ambígua, com uma linha mais clara entre o que é certo e o que é errado. Pois é. Reza a lenda...

Debate sobre o cinema de gênero no Brasil

Acredito realmente que um dos grandes entraves para esse cinema de gênero é a dificuldade de criação de um pacto de veracidade da trama com o público. Os norte americanos não têm mais esse problema porque de antemão o público ja considera que o universo do thriller, da ação, da fantasia e da aventura é deles - a praia deles. Passei por isso ao escrever Souvenir Iraquiano e Fronteira, romances de espionagem completamente vividos por personagens brasileiros em tramas das quais realmente participamos. Mesmo assim vi muita gente torcer o nariz pela simples "ousadia" de penetrar nesse feudo anglo-saxonico.
Na dissertação de mestrado "Uma Spy Story brasileira? Leitura de A Última Viagem do Lobo Cinzento", procurei tratar do assunto, afunilando a discussão para o romance de espionagem.
Acredito que bastante coisa que enumerei neste trabalho pode ajudar a levantar a discussão no mesmo tom, mas sobre os gêneros policial, de fantasia, ficção científica, aventura e ação.
Boa leitura!

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