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sábado, 17 de novembro de 2012

Cai fora, urubu!

"Flash, tudo branco, uma porrada do lado e eu apaguei. Uma dor forte no corpo inteiro foi me acordando. Dor forte mesmo. Não conseguia me mexer direito. Rastejei até chegar num gramado, no solo mais fofo, até onde deu. Ainda estava escuro, eu zonzo como o diabo e a dor me impedindo de fazer qualquer coisa. Sei lá o que me acertou! Eu estava apenas caminhando, vindo dos mesmos lugares de sempre quando aconteceu. Nunca senti nada igual.
Me desloquei quanto? Um pouco só, até a grama fofa e não tenho forças pra mais nada. Tô com sede. Muita sede. Onde tem água? Preciso de água, minha boca está seca e eu tô cansado demais pra procurar água. Essa grama está muito macia. Vou dormir. Não aguento mais nada. Apaguei
Ai, véi, essa dor não passa... mas eu acordo um pouco mais disposto. Quase nada. Está mais claro, mas eu ainda não consigo me mexer direito, as pernas doem muito e...
Que porra é essa, cara?!
Não, essa não! Fora daqui! Eu sei quem você é!
"Fora! Fora! Sai daqui!", eu comecei a gritar, sem parar. O que restava de forças em mim eu tinha que puxar pros meus pulmões e afastar aquele urubu de mim. Tem mais dois voando. Eu sei quem são vocês e o que vocês fazem!
Eu continuo gritando sem parar. Eu sei o que eles querem, e sei que eles não vão me bicar enquanto eu estiver vivo. Olho ao meu redor e vejo sangue - meu sangue - já coagulado no chão. Eu tô aqui há quanto tempo mesmo?
"Você não tem tempo para isso: grite pra afastar esses urubus!" e continuei gritando sem parar. Senti falta de ar, tudo ficou girando e eu apaguei de novo. Mas foi rápido. Quando abri os olhos o urubu estava mais perto. Eu gritei de novo e ele deu um salto para trás.
"Não pare de gritar! Você tem que afastar esses caras daqui, porque se você apagar de novo eles podem achar que você morreu e quererem te bicar! Isso pode te matar", eu disse para mim mesmo, enquanto tentava me arrastar de novo. Mas pra onde? Esses desgraçados VOAM e eu nem consigo andar direito!
É mesmo uma situação de merda, cara. Com o amanhecer eu entendi direito o que aconteceu. Eu estava andando tranquilamente, de repente um desses carros me pegou. Droga, eu nem percebi que estava na rua!
Sei que era de noite, mas eu nem escuro sou! Sempre achei que meu pai fosse claro, pois minha mãe também era, e eu também sou. Marrom claro em cima, meu peito, minha barriga e meus pés são branquinhos. Encardidos, pra falar a verdade.
Esse é o tipo de coisa que você acha que nunca vai acontecer contigo. Conheço uns caras que são escuros em cima e embaixo. De noite nem dá para ver direito. Você sente o cheiro do cara há horas, até que vê o filho da mãe quase já na sua cara. Tá bom, a gente enxerga meio ruinzinho. Mas acho que esses caras que dirigem por aí enxergam pior ainda.
Quem autoriza esse pessoal a andar por aí com essas coisas? Elas matam! Tem três urubus aqui (dois voando e um no chão) que confirmam isso que estou dizendo.
"Fora daqui! Saia! Fora!", eu continuo gritando, até que o urubu sai voando. Convenci ele de que estou vivo ainda, apesar desse sangue ao meu redor, esse cheiro de morte, dizer o contrário.
"Vai embora atrás de alguém morto de verdade, seu urubu!", gritei, quando não aguentei mais e apaguei de novo. Dessa vez mais profundo, a garganta ardendo, uma sede monstruosa me consumindo.
Acho que não tem mais nada a fazer.
Ganhei uma batalha, mas acho que a guerra eu vou perder.
Não tenho mais forças. Não consigo sair daqui. Queria ir para... para onde? Atrás de água para começar, atrás de meus colegas, de alguma lady no cio, de alguma borboleta para perseguir, sei lá! Eu tenho a minha vida e queria apenas cuidar dela, e não estar morrendo aqui!
Não é fácil você acordar e ver um urubu esperando para te destrinchar as tripas. Não conheço muitos caras que tenham passado por isso. Mas não culpo ninguém. Sei que sou fácil de ver à noite, com meu pelo marrom claro, minha barriga e meus pés brancos, mas dei azar de cruzar o caminho do homem errado.
Acho que é isso...
Acordei com uma cutucada nas minhas costelas. O que é isso?
Um homem... não, dois. Eu tenho certeza, sei contar até cinco...
O que querem? Me deixem  em paz... Eu não consigo nem gritar com eles. Deixe estar... Estão me levando pra dentro do carro. Um outro está olhando... Acho que... acho que...
O que é isso? Que espetada foi essa? O que vocês.... Ah... bom... bom demais... a dor... está indo... Que bom... Acho que isso é bom. Vou dormir. Acho que estou seguro."


Relato de um cão sem nome, marrom claro, peito, patas e barriga brancos, encontrado desfalecido na avenida Guaporé, perto da Calama, após ser atropelado e passar horas lutando contra urubus que esperavam sua morte. O texto está na íntegra. Em nenhum momento ele falou mal do péssimo motorista que - incapaz de dirigir direito - o atropelou. É civilizado demais para xingar alguém.

sábado, 21 de abril de 2012

O Fusca da Democracia

Quem quer um Fusca?
O  Fusca foi um carro que marcou uma época. Ele era barato de produzir e resistente. Seu motor era refrigerado a ar, projetado para aguentar situações difíceis. O brasileiro adorou o Fusca e sua manutenção simples e barata.
Mas hoje quem quer um Fusca? Ele não tem ar-condicionado, a suspensão é ruim, a direção não é hidráulica, não tem ABS nem servo freio. Ninguém quer um Fusca porque ele não é mais eficiente para os dias de hoje.
E o que a Democracia tem a ver com o Fusca?
Tudo.
A Democracia não é mais eficiente para os dias de hoje. Ela foi "projetada" para uma época em que a população se reunia na praça e cada um dava seu pitaco no comando do grupo. As coisas funcionavam.
Nas sociedades de milhões de habitantes, hoje, não funciona mais.
Diferentemente dos carros, a Democracia não se modernizou. Hoje temos diversos modelos, um melhor do que o outro, mas o modelo da Democracia é velho, não é eficiente e cheira mal como carro velho.
Como modernizar a democracia e fazer com que ela volte como nos tempos em que os governantes tinham vergonha de fazer errado porque tinham medo de apanhar na praça do centro da cidade?
Precisamos pensar nisso...
As  redes sociais dão uma aula sobre as possibilidades de modernização da Democracia.
Nas redes sociais estão armazenadas informações sobre bilhões de pessoas. Tudo está interligado e o efeito é imediato. Por que nossos votos não estão armazenados em uma rede social?
Por que eu não posso ser capaz de retirar o meu voto quando descubro que o político no qual votei está desmerecendo meu voto? Isso seria possível?
Basta dar uma olhadinha nas redes sociais e ver o potencial.
Quando os votos do político ficasse abaixo de uma determinada porcentagem, ele perderia o cargo. Isso faria com que os representantes andassem na linha, como os de antigamente, bem antigamente, quando a democracia funcionava.
Haveria riscos de fraude em uma rede social eleitoral? Tanto quanto na urna eletrônica, com a diferença que cada eleitor teria o controle de seus votos, o que não existe no caso da urna eletrônica.
Se o Fusca tivesse linhas modernas, ar-condicionado, computador de bordo, suspensão macia e etc, todo mundo ia querer um Fusca.
Assim como precisamos de um carro moderno, precisamos de uma Democracia que funcione nos tempos de hoje.

Protesto contra a corrupção

Alto lá, precisamos parar e avaliar o fraco engajamento ao ato contra a corrupção, realizado em todo o país neste dia 21 de abril de 2012. Não dá para partir rumo ao simplismo de estabelecer que o brasileiro é bovino, que tem os políticos que merecem e assim vai. Estamos ouvindo isso desde sempre, como motivo para explicar porque a nossa colonização não deu certo, isso ou aquilo. É preciso analisar o nosso comportamento, e esse é o tipo de coisa que não será feito de um momento para o outro, em cima do joelho. Não ouso querer explicar, mas arrisco a por algumas luzes sobre essa situação, a guisa de provocar a discussão.
Acho que podemos partir do princípio que o brasileiro não sabe mais onde pedir ajuda. Estamos numa situação parecida com aqueles filmes de ficção científica dos anos 50, quando uma cidadezinha era invadida por alienígenas e os cidadãos passavam a ser substituídos por extraterrestres que assumiam a forma humana. Os protagonistas, na tentativa de escapar e enfrentar a ameaça, procuravam ajuda e invariavelmente se deparavam com aliens disfarçados de humanos - as pessoas em que eles mais confiavam haviam se transformado em inimigos.
Essa filmografia - que fez muito sucesso - se enquadrava na paranóia da Guerra Fria, na qual os americanos propagandeavam sobre o risco de uma invasão comunista, na qual seu vizinho poderia ter se tornado um colaborador dos russos.
Nossa realidade não é muito diferente. O caso Demóstenes é uma prova disso. O grande baluarte da oposição, que vivia acusando o governo petista de ladroagem estava envolvido exatamente com o crime organizado. Ou seja, uma pessoa para quem o brasileiro poderia se dirigir com denúncias de corrupção era mais um alienígena (corrupto) disfarçado de bom cidadão.
A questão é: quantos mais são assim?
Voltamos ao caso da relação Demóstenes-Cachoeira e vemos acusações contra a revista Veja, uma das mais conceituadas do Brasil. E aí, como fica? Quais veículos de comunicação têm ficha limpa? Qual magistrado? Qual policial? Qual empresário? Qual professor? Qual aluno e qual dona de casa?
Será que podemos falar com o nosso vizinho sobre o último escândalo da ALE ou ele está na folha de pagamento fantasma do Legislativo? Será que aquele nosso colega que passou no concurso público estudou mesmo ou foi apadrinhado? Quantos casos existem assim?
Uma coisa é verdade sobre o Brasil: a corrupção hoje se alastrou de uma forma muito ampla, não estamos mais vendo uma pequena minoria garfando os cofres públicos - isso virou uma legião! De positivo está apenas o fato que temos mais gente roubando, mas mais gente gastando, torrando o dinheiro fácil com empregadas, carros de luxo, escolas caras, bares de luxo, restaurantes de primeira linha. O dinheiro circula mais do que no Brasil do início do século XX, que era corrupto, mas cujo poder sob a coisa pública estava nas mãos de poucos.
Mas isso é bom? Claro que não.
Talvez o brasileiro não saia à rua para protestar porque ele não acredite que isso vai funcionar, mas ele acredita que vai se divertir no show sertanejo ou no Carnaval - disso ele tem certeza. Mas o brasileiro hoje não tem certeza alguma de que seu esforço contra os corruptos poderá ser recompensado.
Isso é ruim? É péssimo. E qual é a saída?
Ora bolas, as redes sociais foram a mola que alavancou a Primavera Árabe, derrubando ditaduras no norte da África? As redes sociais na internet e milhões de dólares investidos em ações secretas, em mobilizações frotas de navios de guerra, em lançamentos diários de mísseis de milhões de dólares e alta tecnologia em combate e informação.
As redes sociais e bilhões de dólares foram capazes de mover uma população que estava acomodada, acostumada com seu destino, mas não vamos nos iludir. Eu estive na Tunísia no ano passado e não foi um, não foram dois nem três tunisianos que disseram que um governo corrupto foi derrubado para poderem ser feitas eleições com candidatos mais corruptos ainda.
E como ficamos?
A próxima manifestação contra a corrupção terá um propósito além de reunir gente na rua? Vamos nos encontrar na rua para gritar palavras de ordem e depois o quê? Quem vai olhar para os milhares de pessoas na rua e vai temer seu poder? Quem?
Acho que é esse o propósito de uma manifestação popular: mostrar o poder do povo. Um poder que pode ser canalizado para onde? Com qual finalidade? Para fazer o quê? Para intimidar quem?
De outra forma, em setembro talvez mais gente saia às ruas, pinte o rosto e depois volte para casa para limpar a tinta. E a sensação de que se conquistou algo? Como vai ser?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Facebook, o paraíso do Spam

Ah... como as pessoas enviavam spam no início da internet... Qualquer frase legal, imagem bonitinha, a foto que acabou de ser tirada na câmera digital de 1.3 mp... tudo virava um email enviado para os amigos, os vizinhos e conhecidos. Mandou um email para alguém? Vixi... você teve seu endereço copiado e acabou sendo anexado naquelas intermináveis listas de mensagenzinhas babacas, pirâmides, promessas, etc.
Ficamos chatos com o tempo. Abrir um email com um power point com imagens lindas de morrer foi se tornando cada vez mais um amargor. Ficamos cansados disso.
Vieram os anti spam, as respostas grosseiras até que...
inventaram o Facebook!!!!
Hoje todo mundo posta suas fotos de prato de comida, do cachorro, posta as frases lindas, as imagens emocionantes, a filosofia de Poliana, a filosofia de botequim, a piada engraçada e a sem graça... Tudo no Facebook. E agora todo mundo curte, todo mundo adora.
Para falar a verdade, agora as pessoas deixam de fazer coisas até mesmo mais prazerosas para passar o final de semana inteirinho olhando o Facebook cheio de coisas que no email delas é considerado SPAM.

Redes anti sociais

Será que é novidade para alguém que as pessoas estão vivendo um processo de individualização já faz um bom tempo? Famílias menores e que encontram o fim em relacionamentos instáveis e inférteis - cada vez isso é mais comum.

Violência urbana crescente, aumento da jornada de trabalho com a valorização desmedida da vida corporativa - uma vida que não tem metade da leveza ou da liberdade dos relacionamentos familiares.

Somos, sim, mais solitários que nossos pais e avós.

Antigamente as pessoas visitavam umas as outras sem aviso prévio. Tinham certeza de que seriam bem recebidas por seus parentes e amigos. O advento do telefone – por exemplo - mudou isso, já mostrando como a tecnologia chegava com um grande potencial de individualização. ''Ligue antes, vá depois", dizia uma campanha antiga que procurava impor às pessoas um novo valor, dito metropolitano, à guisa de estimular a economia de tempo, de combustível e de gasto de impulsos telefônicos. Ficamos mais chatos do que nossos pais e avós.

E com isso fomos aceitando a solidão como um sinal dos tempos, um ingrediente inevitável da vida moderna.

Consideramos aceitável o comportamento coletivo e gregário até um determinado momento da juventude, para, em seguida, acharmos natural e evolutivo que as pessoas limitem seus contatos sociais no seio da família, apenas.

No final de semana passado o Facebook teve – no Brasil – mais acesso que o Google. Os comentários que vi na mídia especializada (ou não) dão um certo tom de comemoração. Mas o que há para celebrar nisso? Analisemos...

Ficamos mais tempo em casa fazendo aquilo que poderíamos fazer ao vivo: visitar os nossos amigos. Amigos que, na verdade, nem são mais tão nossos amigos assim. São pessoas que conhecemos. Marcamos 5 mil amigos no Orkut, no Facebook como uma forma de nos sentirmos interligados com o mundo, com as pessoas, mas fazemos por nossos amigos aquilo que nossos avós faziam pelos seus amigos? Recebemos 5 mil amigos em nossa casa colocando apenas água no feijão e um colchão na sala? Aceitamos ser avalistas para aquele crediário tão importante para nossos amigos? Acordamos no meio da madrugada para ajudar 5 mil amigos que sofreram um acidente?

As redes sociais nos fizeram ter 5 mil amigos ou nos trancaram dentro de casa forçando-nos a comprar o último modelo de tablet para poder conversar com eles?

O fenômeno do Facebook ter ultrapassado o Google no último final de semana - para mim - é motivo para reflexão.