Uma provável operação do serviço secreto israelense teria precedentes, como no caso Yellowcake, contra interesses brasileiros no Iraque
O assunto da semana é a crise diplomática entre Brasil e Israel provocada por uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo (18/2). O mandatário brasileiro comparou a guerra sionista contra o Hamas com o Holocausto nazista na Segunda Guerra Mundial. Isso fez com que Israel taxasse Lula como persona non grata, e fez com que o jornalista Breno Altman, que lança o livro Contra o Sionismo, esta semana, na UNB, alertasse - em entrevista a um jornal - que Lula tomasse cuidado com o Mossad. Não seria a primeira vez que o serviço secreto de Israel deflagraria uma operação contra interesses brasileiros.
O livro que Altman lança na UnB, nesta semana, Contra o sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista, é um compilado de mais de 50 horas de participações de Altman em lives, mais análises e entrevistas, realizadas desde o início do ataque do Hamas contra Isarel, revidado de forma absurdamente desproporcional por Israel.
No livro, lançado pela Alameda Editorial, o jornalista explica os fundamentos do sionismo, da Questão Palestina e do Estado de Israel; aponta as diferenças entre judaísmo e sionismo (que a propaganda de guerra de Israel luta para transformar em sinônimos); demonstra como o sionismo se transformou em uma ideologia racista, colonial e teocrática; e coloca como o resultado de anos de conflito foi a construção de um regime de apartheid que oprime o povo palestino de diversas formas.
Nesta semana, em entrevista ao Correio Brasiliense, sobre o lançamento de seu livro, Breno Altman fez um alerta ao presidente brasileiro: "Se eu fosse o Lula, eu dobrava a segurança. Mas a declaração dele não comparou grandezas, comparou metodologias. Na comparação metodológica ele está correto, ou seja, é a metodologia de extermínio de um povo. O Holocausto teve uma escala industrial, mas a ideia de extermínio é similar. É isso o que deseja o governo Netanyahu, uma limpeza étnica".
A escalada da crise entre Brasil e Israel começou com a declaração de Lula, seguindo com o chanceler Israel Katz tornando o presidente brasileiro persona non grata no país e exigindo uma retratação. Lula não somente negou a possibilidade de se retratar como já anunciou interesse em expulsar o embaixador de Israel do país.
Por mais que a crise venha crescendo dia a dia desde domingo, não dá para considerar que o Mossad, o famigerado serviço secreto israelense venha a executar um plano contra o presidente brasileiro. Mas há precedentes. Nos anos 1980, agentes secretos de Israel agiram contra o interesse de integrantes do governo brasileiro em seu plano de entregar material físsil para o Iraque. O esquema que ficou conhecido como o Caso Yellowcake, quando o Brasil chegou a enviar 27 toneladas de subproduto de urânio para Saddam Hussein produzir uma bomba nuclear.
Agentes do Mossad interferiram no plano brasileiro e a força aérea de Israel bombardeou a usina nuclear de Osirak, no Iraque, sepultando o projeto de Saddam. Esses fatos, que já foram vistos em romances de espionagem como “Fronteira”, e “Souvenir Iraquiano”, do escritor brasileiro Robinson Pereira, mostram como a determinação de Israel para enfrentar seus desafetos não tem fronteiras.
Outra publicação que mostra o Mossad cruzando o Atlântico para defender interesses sionistas, é Caçando Eichmann, de Neal Bascomb, que narra a história real de como Israel levou à Justiça um dos criadores e gerente da “solução final”, o sistema de extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Sem dúvida, realidade e ficção se mesclam há décadas quando o assunto é o Mossad. Por isso, como disse Breno Altman, talvez Lula precise realmente revisar o seu esquema de segurança. Nunca se sabe….
Serviço:
Contra o sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista - por Breno Altman, editora Alameda
Fronteira - por Robinson Pereira, editora Nova Letra
Souvenir Iraquiano - por Robinson Pereira, editora Nova Letra
Caçando Eichmann - por Neal Bascomb, editora Objetiva
Fonte: SGC.COM.BR