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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Relatório dos deputados Brizola Neto e Protógenes Queiroz

Líbia: o relato da viagem frustrada



Cheguei ao Rio sem condições de relatar,com o devido detalhamento, a viagem que se destinava à Líbia mas que foi, pelas razões que são de conhecimento geral, interrompida na Tunísia, por falta de condições de segurança. Farei isso agora, com a minuta do relatório que apresentarei, com o deputado Protógenes Queiroz, sobre tudo aquilo que fizemos, vimos e ouvimos.

Quero, também, esclarecer às pessoas que indagaram – e também às que criticaram sem saber o que diziam – que a viagem não foi custeada com um centavo de dinheiro público. Apenas as passagens foram adquiridas pelo Movimento Democracia Direta e nossas estadias e demais despesas foram custeadas pessoalmente.

Quem acha que viajar para a Líbia, em plena guerra, é fazer turismo, deveria pensar um pouquinho e refletir que nem todo mundo tem este tipo de relação com a política.

Feito este esclarecimento, e pedindo desculpas por termos parado o blog enquanto eu fazia o relatório – não dava para falar de outras coisas antes de prestar contas da viagem – publico a minuta do relato, que pode sofrer ainda algum ajuste, para incluir algum detalhe que tenha ficado esquecido.

Esta é a minuta do relatório:

“Excelentíssimo Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Marco Maia

Nos termos do ofício nº 2492/11/GP, pelo o qual esta Casa conferiu caráter oficial à viagem que realizamos com destino a República Árabe Líbia, vimos apresentar o relatório para informação e apreciação da Comissão de Relações Exteriores e dos demais integrantes da Câmara dos Deputados.

Em primeiro lugar, como é de conhecimento público, os acontecimentos frustraram nosso propósito de observar in loco a situação de conflito que se desenvolve naquele país desde que, em março do corrente ano surgiram os primeiros movimentos rebeldes, notadamente na cidade de Benghazi, localizada na costa oriental líbia.

De igual forma, é sabido que, a partir daí a Organização das Nações Unidas (ONU), através das Resoluções 1970 ratificada pelo governo brasileiro e na 1973, autorizou, apenas, ações – militares, inclusive – que visassem a proteger os direitos das populações civis e impedir o uso desproporcional de força, sobretudo a aérea, contra protestos desarmados.

Frise-se que este posicionamento foi absolutamente consentâneo com a tradição diplomática de nosso país, que se funda no respeito do auto determinação dos povos, a não-violência, e o respeito a disputa democrática do poder nacional. Houve, durante esses meses, inúmeras manifestações internacionais, sobretudo por parte da República Russa e da União Africana, de que tal mandato, ao ser extrapolado com ações bélicas que visavam enfraquecer e vulnerar o governo da Republica Líbia, estaria se configurando um ato de abuso de força e, na prática, de intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) naquele país.

Foi para constatar se era, de fato, isso que ocorria, significando uma violação do mandato internacional o qual nosso país subscreveu, que se destinou nossa missão.

Fixados os objetivos da viagem, passamos a narrar os fatos que nela sucederam.

Chegamos a Tunis, capital da Tunísia, no final da noite do dia 15 do corrente mês. No dia seguinte, nossa primeira providência foi buscar contato com a representação diplomática brasileira na capital tunisina, o que, infelizmente foi impossível e só veio ocorrer na quarta-feira quando nos reunimos com os senhores Márcio Augusto dos Anjos, primeiro secretário da embaixada brasileira na Líbia e pelo senhor, André Rosa Bueno, que nos informaram da dificuldade de obter garantias de segurança para o procedimento da viagem (documento anexo), o que já nos havia sido dito na véspera pelo Dr. Wael Al Faresi, professor universitário e membro do Comitê Olímpico, e naquele momento membro do “Comitê Voluntário de Apoio” ao governo líbio.

Note-se que, pela precariedade do trânsito entre a Tunísia e a fronteira oeste líbia – até então livre de conflitos militares, a comunicação do Dr. Al Faresi com nossa delegação foi feita por intermédio de videoconferência.

Expressando-se em português, o Dr. Al Faresi disse nos que o exército líbio havia recuado de suas posições naquela região após fortes bombardeios realizados pela aviação da Otan. Segundo ele, as ações militares visavam não apenas desalojar as tropas leais do governo como, sobretudo, interromper o funcionamento da infraestrutura e dos canais de abastecimento daquele país.

Disse-nos, inclusive, que teria sido bombardeada uma usina de geração termoelétrica que abastecia de energia a cidade. No diálogo com os representantes diplomáticos brasileiros o Senhor Márcio dos Anjos, além de confirmar a instabilidade da situação militar nas vias de acesso à Trípoli, confirmou que até a data que deixou a capital líbia, 15 dias antes do nosso encontro que os bombardeios danificavam progressivamente os serviços de infraestrutura da cidade, levando a interrupções no fornecimento de energia e telecomunicações, provocando elevação nos preços dos alimentos e mercadorias em geral, pela escassez de suprimentos.

Numa explanação mais ampla, o secretário Márcio dos Anjos descreveu-nos a Líbia como uma sociedade onde a maioria da população gozava de bons níveis de bem-estar, inclusive com políticas públicas de educação, saúde, habitação gratuitas e como a maior renda per capita do continente Africano. Disse-nos, ainda, que o país estimulava o intercâmbio de estudantes e profissionais com outras nações, à custa do governo. Ressaltou que o governo possuía recursos derivados do fato de ter a exploração de petróleo regulada por contratos que garantiam que cerca de 90% do lucro obtido pelas petroleiras fosse recolhido aos cofres públicos.

Com isso, informou, o Estado Líbio desenvolvia um grande programa de habitação, levando 80% da população a possuir moradia própria e projetando a construção de mais 500 mil casas e apartamentos, um número que se torna impressionante quando se considera que a população daquele país é composta por pouco mais de seis milhões de habitantes.

No aspecto político, o secretário Márcio dos Anjos disse não ter observado, em Trípoli, manifestações de adesão ao movimento rebelde e muito menos a presença de qualquer grupo insurreto. Havia, ao contrário, segundo seu relato, restrições ao chamado movimento rebelde mesmo entre aquelas pessoas que não apoiavam o comportamento de Muammar Gaddafi.

O relato do secretário, Márcio dos Anjos, foi corroborado pelo Ministro conselheiro Luis Eduardo Maya Ferreira, que chefia interinamente a embaixada brasileira em Tunis, ao definir o Sr. Márcio como um dos diplomatas de nosso país mais habilitado a descrever a situação líbia.

Impedidos, portanto, de seguir em nossa missão, aguardamos três dias por uma eventual melhoria nas condições de segurança, o que não ocorreu. Nestes dias, com ajuda de interpretes, pudemos observar nos meios de comunicação locais e regionais um amplo noticiário sobre o conflito, dividido, basicamente, em duas linhas de abordagem. Uma, da emissora Al Jazeera, sediada no Qatar, bastante semelhante ao noticiário que temos recebido, aqui no Brasil, pelas agências internacionais. Outra, com tom diferente, nas emissoras tunisinas e de outros países da região, onde, ao lado das imagens dos movimentos insurrecionais se exibiam também imagens das manifestações pró-Muammar Gaddafi. Pudemos, também, assistir às transmissões da TV estatal líbia, na qual se veiculavam inúmeras convocações à população para defesa da capital e de seu entorno, chamando à população civil, inclusive a feminina, para participar da resistência.

No esforço para tentar obter informações, deslocamos-nos até Bem Gardan, a última cidade tunisina antes da fronteira líbia, a cerca de 50 km dela, e, mesmo tentando ir adiante, isso foi recusado pelo motorista do veículo que locamos em Tunis para este deslocamento, alegando falta de segurança. Naquela localidade, pudemos observar duas situações dignas de nota. A primeira, o forte movimento de tropas e veículos blindados da Tunísia, para prevenir violações de seu território. A segunda, um grande acúmulo de alimentos e outros itens de primeira necessidade, inclusive combustível, que já não podiam ser levados à população líbia pelo acirramento do conflito.

Em resumo, a limitação de nossos movimentos, malgrado todos os esforços que fizemos para o pleno cumprimento de nossa missão, não nos permite expressar, com a força do testemunho pessoal, a situação interna da Líbia. Pudemos observar, entretanto, nos diálogos que realizamos, que é praticamente unânime a percepção na região de que o desfecho desses acontecimentos reflete muito mais os efeitos da intervenção militar ocidental do que propriamente o enfrentamento dos grupos pró e antigoverno daquele país. Mesmo com a impossibilidade de penetrarmos no território da Líbia, fizemos contatos com vários cidadãos daquele país, apoiadores ou opositores do regime e todos destacavam, não apenas o poder dos ataques da Otan como, até mesmo, o fato de muitas das operações de bombardeio atingirem alvos civis, a infraestrutura, e, ironicamente, até mesmo as tropas insurretas que visavam apoiar. Pelo que foi possível recolher de testemunhas não foi uma ação bélica condizente com a delegação internacional que a Otan recebeu da Onu.

Por fim, cabe assinalar que em todos os momentos nossa delegação insistiu numa posição de apoio ao fim, por ambas as partes, dos conflitos armados. E pela convocação do povo líbio a uma ampla e democrática consulta sobre os rumos da nação. Cumprimos, no limite de nossas possibilidades, a missão que nos foi delegada oficialmente por esta Casa, sem ônus para os cofres públicos, e colocamo-nos à inteira disposição dos senhores Deputados para qualquer esclarecimento adicional.

É o que temos a relatar.

Brasília, 22 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cobertura jornalística da guerra na Líbia

Estou vendo aqui a edição de hoje do jornal Folha de São Paulo sobre os combates na Líbia. Na capa a manchete é "Rebeldes acuam Gaddafi na Líbia". No texto da chamada não há referências aos ataques da Otan.
No texto, na página A10, a matéria abre sem citar a Otan, que aparece no NONO parágrafo, com a afirmação de que admitem que com os combates nos centros urbanos fica difícil garantir a segurança de civis.
Vejam posts abaixo aqui no meu blog. Entrevistei um consultor militar dos rebeldes que fala dos ataques da Otan, e um civil que fala a mesma coisa: os bombardeios não eram eficientes. Mas, como disse o consultor: estava melhorando este mês.
De onde veio a arrancada dos "rebeldes"? Ora, veio da intensificação dos bombardeios. Não veio do crescimento das adesões ao grupo ou então da hegemonia da força deles.
Os bombardeios da Otan ganharam intensidade e ficou fácil para que os rebeldes avançassem.
A reportagem foi feita baseada em agências de notícias internacionais.
Agências essas que estão sediadas em Tripoli, mas que estranhamente não enviaram fotos das manifestações populares em Tripoli festejando a chegada dos rebeldes. As fotos da edição de hoje vêm de Benghazi, que já está há um bom tempo sob controle dos rebeldes.
Provavelmente as imagens de Tripoli não são agradáveis.

O único ponto equilibrado da cobertura está no infográfico, que aponta que o IDH da Líbia é melhor que o do Brasil. Eles estavam na 53a posição, e nós, na 73a.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Olhos de quem escreve romances de espionagem

É bom, em um momento como esse, olhar as coisas com os olhos de quem escreve romances de espionagem. Isso porque as coisas nunca são preto no branco. Sempre há um motivo por trás de outros que são usados como fachada. A conquista da chamada rota da seda, o caminho repleto de recursos naturais que vão da Europa até a China, é um sonho antigo dos ocidentais e vem sendo levado a cabo pelos americanos.
Eles precisam isolar Israel de qualquer risco de ser atacado no caso de uma invasão do Irã. Por isso a Primavera Árabe.
Essa estratégia é uma forma de neutralizar governos hostis sem que seja necessário enviar tropas. Basta treinar e municiar forças locais - além de prometer cargos com altos salários na nova ordem política e social que surgirá no país.

Mas será que mesmo conseguindo neutralizar o norte da África e o Oriente Médio seria possível aos EUA invadir o Irã?
Será que os EUA teriam meses e meses para fazer um cerco ao país, assim como fizeram com o Iraque?

A tão falada mobilidade do maior exército do mundo é uma balela. Em 1991 os EUA levaram de agosto a janeiro para lançar o primeiro ataque contra o Iraque. Não foi diferente em uma série de conflitos seguintes. Quantos meses precisaria para cercar o Irã?

Ora, eles já tem forças no Iraque, no Afeganistão e em países muçulmanos da CEI, ao norte do Irã (forças mercenárias). Mas eles não têm controle sobre a situação.

Não mesmo.

Nos últimos dias, uma unidade dos superhomens do SEAL, o mesmo pelotão que fez a super mega operação que matou (???) Osama Bin Laden, foi destroçada por forças subnutridas afegãs. Mortos em combate os super soldados dos EUA.

Os EUA, por mais que queiram provar isso nos filmes, nunca foram bons em infantaria. Nem os britânicos. Na guerra das Malvinas, mandaram guerreiros Ghurka fazer a parte suja do negócio. Os tão falados SAS conseguem entrar em ação com meses e meses de treinamento e em caso de retaliação zero.

Será que os iranianos vão deixar uma coalizão se formar ao seu redor durante meses, sem falar nada?

Será que o mundo vai deixar isso acontecer?
O mundo, e nós, brasileiros.

Nós temos o pre-sal. E já tem gente querendo tirar eles de nós.
Nós temos a maior capacidade do mundo de plantio, de agronegócio, e querem ferrar com a gente.

Não é preciso ser escritor de romances de espionagem para enxergar essa "teoria da conspiração".... afinal de contas, nem teoria é... é prática

Para que lado iria o meu relatório

Se fosse para finalizar meu relatório agora, mesmo sem ter entrado na Líbia, meu texto apontaria para o lado da paz. Apontaria para o fim do bombardeio da Otan sobre o país. Os motivos são claros.
Mesmo antes de sair do Brasil, como é possível conferir neste blog, meu posicionamento era de que a tal Primavera Árabe não passava de uma estratégia de dominação. Não acredito, agora, que esteja errado.
Os entrevistados líbios, mesmo contra Gaddafi, ressaltaram a ineficiência dos ataques da Otan. Não dá para acreditar que isso seja normal. Mesmo a artilharia baseada em navios no Mediterrâneo, com um bom sistema de observação em solo feito pelos rebeldes, permitiria que as forças de Gaddafi fossem atingidas com eficiência. Isso não acontece.
Mas o que acontece? Por que os rebeldes e os líbios contra Gaddafi dizem que ele vem matando os líbios?
Isso é uma situação muito fácil de explicar em uma guerra.
Os rebeldes vêm travando uma tentativa de guerra de ocupação nas cidades líbias. Isso significa que eles tentam expulsar as forças regulares e depois ocupar posições.
Mas essas trincheiras ficam onde? Nos corações das cidades e vilarejos. E os combates travados dentro de cidades causam baixas nos três lados - principalmente entre civis.
E são exatamente essas baixas que trazem muita vantagem para a Otan, para os EUA.
De imediato, eles pensaram que com isso colocariam o povo líbio diretamente contra seu líder, mas os líbios parecem escolados. Como disse o articulista de texto postado abaixo, eles conhecem Gaddafi há mais de 40 anos e os norte-americanos tiveram 40 anos para colocá-lo para fora. E todos nós sabemos que há um bom tempo os ianques não se preocupavam com Gaddafi na liderança da Líbia.

O que aconteceria caso a Otan fosse obrigada a parar com seu bombardeio?
Ora, as mortes parariam apenas se a própria Otan criasse uma área de exclusão para a saída dos rebeldes, para que depusessem suas armas e se começasse um processo democrático como já foi proposto por Gaddafi.
Mas como garantir a segurança dos rebeldes após a trégua?
A área de exclusão deveria garantir condições de segurança para a reintegração dessas pessoas ou para a retirada para outros países. O que não dá para acreditar é que a oposição a Gaddafi seja tão grande quanto foi dito.
Desde o início da guerra o governo líbio tem armado a população para enfrentar uma provável invasão estrangeira. Estariam eles armando o próprio inimigo? Além do mais, pelas informações que obtivemos, boa parte dos líbios já estavam armados antes dos conflitos.
A impressão que temos é de que a oposição que pôs as mãos nas armas não é tão grande assim e é mais mobilizada por uma intenção externa do que por um crescente movimento interno. Nossos entrevistados não souberam datar a progressão dos confrontos, desde que eram de palavras e protestos, até que se tornassem em conflito armado.
É claro que uma investigação como essa requer mais tempo, mas a Anistia Internacional, por exemplo, já chegou a posição semelhante, assim como observadores até mesmo europeus.
Seria interessante que a Europa e os EUA reunissem esforços para, junto com Gaddafi, levar seu rio subterrâneo com águas datadas da Era do Gelo para o resto da África subsaariana. Talvez isso melhorasse a situação da Etiópia e da Somália.

Mas ninguém está pensando em água, não é verdade?

Mais opiniões sobre o que está ocorrendo na Líbia

Contra a OTAN-EUA, que estão destruindo a Líbia:
Aumenta o apoio a Gaddafi
15/8/2011, Scott Taylor, The Chronicle Herald, Halifax, Canadá
http://thechronicleherald.ca/Opinion/1258350.html

Scott Taylor é jornalista e militar, editor da revista Esprit de Corps
(http://www.espritdecorps.ca/index.php?option=com_content&view=article&id=160:scott-taylor&catid=47:staff-profiles&Itemid=76).


A rebelião na Líbia sempre foi mais criação da mídia que confronto armado em grande escala. Sim, nos primeiros dias, os rebeldes tomaram alguns tanques e armas das tropas do governo. Por isso, houve escaramuças entre rebeldes e soldados do exército líbio ao longo da rodovia que acompanha o litoral.

Entre 15 de fevereiro, quando começou o levante, e 19 de março, quando o Conselho de Segurança da ONU autorizou intervenção internacional, a vasta maioria dos trabalhadores estrangeiros que viviam na Líbia abandonaram o país.

Naqueles dias de caos, o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha noticiou que o presidente Mummar Gaddafi havia fugido para a Venezuela. Parecia que os rebeldes teriam vitória fácil e rápida. Mas Gaddafi nem viajou nem viajaria; em pouco tempo seus seguidores se recompuseram e, então sim, começaram uma efetiva luta de resistência contra os rebeldes.

Os rebeldes, que não são tropa profissional, logo iniciaram movimento de retirada de volta para o único ponto que realmente controlam no território, na cidade de Ben-ghazi.

Para impedir que Gaddafi impusesse qualquer tipo de retaliação contra os rebeldes, a ONU autorizou a OTAN a implantar uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia, para impedir que civis desarmados fossem atacados.

Muito estranhamente, a resolução da ONU nada dizia sobre não atacar civis desarmados que vivem nos setores controlados por Gaddafi. Ante essa estranha omissão, a coalizão OTAN-EUA-Canadá iniciou imediatamente os ataques contra alvos do governo líbio.

Já há mais de cinco meses, os aviões da OTAN apoiam os rebeldes, e navios de guerra da OTAN implantaram um embargo de armas unilateral contra o exército de Gaddafi. Todos os fundos financeiros líbios foram congelados, o que tornou virtualmente impossível para a Líbia comprar material bélico nem, sequer, prover as necessidades básicas do país, por exemplo, em termos de combustível.

Apesar de todas essas medidas, as unidades esparsas, sem qualquer coesão ou ordem que compõem as milícias rebeldes, não conseguiram impor qualquer derrota taticamente significativa às forças leais a Gaddafi – muito menos, é claro, conseguiram derrubar o ditador.

Em viagem que fiz a Trípoli, semana passada, para levantar fatos, vi que Gaddafi consolidou seu controle sobre a capital e praticamente toda a parte oeste da Líbia. Diplomatas que continuam em Trípoli confirmaram que, desde que começou o bombardeio pela OTAN, o apoio da população e a aprovação ao governo Gadaffi subiram à estratosfera e estão hoje em torno de 85%.

Das 2.335 tribos que há na Líbia, mais de 2.000 mantêm-se fiel ao presidente atacado pela OTAN. Hoje, as principais dificuldades que os líbios enfrentam são relacionadas ao racionamento de combustível e à falta de energia elétrica, resultado das bombas da OTAN que são causa das mais terríveis dificuldades que os líbios enfrentam nos setores controlados por Gaddafi.

A população, evidentemente, culpa a OTAN – não Gaddafi – pelos racionamentos. Em esforço para combater esse sentimento popular e estimular a população a levantar-se contra Gaddafi, os aviões da OTAN têm lançado latas contendo panfletos sobre Trípoli.

Infelizmente para os planejadores da OTAN, as latas são pesadas demais e têm causado ferimentos e quebrado telhados pela cidade, lançadas, como são, de grande altura.

Quanto ao texto das mensagens, algumas já são piada entre os líbios, que riem das traduções às vezes ininteligíveis, às vezes cômicas. Num dos panfletos, por exemplo, no qual quem escreveu supunha que tivesse escrito que os civis devem “unir-se” aos rebeldes, está escrito, de fato, que os civis líbios devem “copular” com os rebeldes.

Outra das missivas da OTAN aconselha que os que vivam em áreas controladas por Gaddafi façam as malas e mudem-se para o território ocupado pelos rebeldes. Aí se lê que os cidadãos devem mudar-se imediatamente para o setor “dos possuídos” (como “possuídos pelo diabo”) da Líbia.

É possível que o embargo, a falta de combustível e a destruição dos prédios públicos e de serviços da Líbia acabem por criar uma crise humanitária muito grave na Líbia de Gaddafi, tão grave que não reste outra alternativa aos líbios além de unir-se em torno do líder que conhecem há mais de 40 anos, para tentarem sobreviver.

Então, afinal, se se chegar a esse ponto, o ocidente dificilmente convencerá alguém de que uma segunda intervenção militar tornou-se necessária, para salvar os líbios da desgraça criada pela primeira intervenção militar... e pelos mesmos interventores.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entrevista com Bashir, que voltaria à Líbia via Sfax

Abaixo o vídeo com entrevista com o laboratorista Bashir Mustafa, 28 anos. Imagens e edição de Miguel Mello.


Viagem rumo à fronteira com a Tunísia


A Otan vem bombardeando severamente a rodovia que liga a Tunísia com a Líbia. Por isso não conseguimos entrar. Autoridades locais afirmaram para nossa delegação, ontem, que a
s forças regulares da Líbia devem retomar o controle sobre a região nos próximos dias. Hoje encontramos um grupo de senegaleses que também precisavam entrar naquele país, mas foram obrigados a recuar para Tunis.
Estamos tentando localizá-los novamente para fazer uma entrevista mai
s completa com eles. Ao mesmo tempo, a delegação se reorganizou para formar dois grupos. Um deles sairá esta madrugada, às 3h (23h de Brasília), rumo a SFax (cidade onde nosso entrevistado Bashir disse que deveria sair de barco para Mstrata, levando remédios e equipamentos de exames laboratoriais) e também seguiremos à fronteira entre a Tunísia e a Líbia.
A ideia é colher mais depoimentos das pessoas, líbios ou de outras nacionalidades sobre a guerra.
Veja no mapa a disposição dos locais.



Entrevista com consultor militar dos rebeldes na Líbia

Confira aqui entrevista em vídeo com o consultor militar rebelde líbio Habil Aribi Doui, 47 anos, ex-membro das Forças Armadas Líbias. Imagens e edição de Miguel Mello.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Estratégia da Otan na Líbia

Depois de conversar com os líbios, ontem, em Tunis, sendo um deles até mesmo um consultor militar dos rebeldes, dá para ter uma idéia da estratégia que a Otan e os EUA em particular estão aplicando na Líbia.
Depois de passar um dobrado no Iraque e no Afeganistão, os EUA sabem que seria muito legal ocupar um país em uma situação de resistência zero. A população da Líbia é de cerca de 5 milhões de pessoas, distribuídas em uma área grande e desértica. A intenção da Otan, evitando bombardear diretamente e com eficácia as forças de Gadaffi é fazer com que o exército regular líbio seja capaz de desgastar as forças rebeldes, enquanto ele próprio é desgastado.
Por isso, como disseram os líbios, eles erram os ataques, mesmo quando são muito fáceis de realizar.
Enquanto isso, atingem alvos da infraestrutura (que os rebeldes gostariam de ver inteiros, caso consigam tomar conta do país) e alvos civis por erros mesmo.
O governo líbio está mostrando que isso vem acontecendo, assim como o povo líbio e os próprios rebeldes...

OTAN X Líbia Parte 2


A força militar com a pior mira do planeta

Líbios reclamam dos ataques da Otan. O plano seria ver os dois lados se desgastando p

ara depois invadir com tranquilidade?

Ficamos parados em Tunis e isso se tornou insuportável. A nossa missão era


chegar perto da guerra e levantar fatos. A 750km de Tripoli poderíamos fazer o quê? Conversar com líbios que estivessem na Tunísia, ora bolas. Bastaria achá-los.


Um garçom falou para nós que o que não falta na Tunísia é líbio, e recomendou uma volta por um determinado bairro (vou ocultar o nome para

proteger a comunidade local). Foi o que fizemos. Pegamos um táxi e seguimos para o local, ouvindo música árabe durante todo o percurso. Pagamos em moeda local, sempre com um pouco de discussão e reclamações e entramos em um hotel depois de fazer algumas perguntas a uns populares.


O recepcionista concordou que havia vários líbios hospedados no local, mas que talvez nã

o quisessem dar entrevistas, se identificar. Insisti para tentar, quando ele perguntou, em inglês:

- Você fala árabe? Quem vai tr

aduzir para você o que eles dizem?


- Você! – declarei, em resposta.

- Vinte euros.


Com meu intérprete feliz da vida, os telefonemas começaram e em alguns minutos desceu um grupo de homens. Conversamos com a ajuda do recepcionista e descobrimos que todos se arriscavam no inglês, assim como eu. O Miguel, com duas câmeras em punho (foto e vídeo), deu o OK.

O primeiro a falar foi Habib Aribi Doui, 47 anos, militar aposentado, que voltou à ati


va como consultor militar dos rebeldes. Como ele mesmo disse, “uma grande sorte nos encontrarmos aqui”.


Pergunta: Diga para a gente o que está acontecendo em seu país, de forma sincera. Ouvimos um monte de coisas na imprensa internacional, queremos a verdade, ok?

Habib Aribi Doui: Posso falar pelo que acontece em nossa região, de Jado (270km de Tripoli), nas montanhas, assim como de Zauia, Sabratah e Gilata. Nós somos uma força de


30 mil homens lutando na região da costa. Hoje todas as pessoas do país estão conosco. Em qualquer cidade onde entramos e expulsamos as forças de Gadaffi, as pessoas vêm festejar conosco.

Pergunta: A Otan está ajudando?


Aribi Doui: Este mês sim.

Pergunta: O que pode dizer sobre o ataque de ontem (segunda-feira)?


Aribi Doui: Não sei dizer ao certo, estava vindo para cá. Mas sei que há 3 ou 4 dias a Otan atacou na região do front onde estávamos.

Pergunta: É seguro para nós entramos na Líbia? (eu expliquei quem éramos e nossa missão, e que estávamos a convite do governo Líbio. Não ia mentir, pois poderíamos ser seguidos, e daí?)

Aribi Doui: É seguro, entrando pelas montanhas, pelas nossas cidades. Eu posso ajudar vocês. Vamos voltar amanhã ou depois de amanhã (quarta ou quinta), após finalizar meu trabalho aqui. Podem vir comigo (trocamos telefones para combinar isso).

Depois de falar com o consultor militar, falei com Bashir Mustafa, um laboratorista líbio de 28 anos, com um ar de sofrimento. Fui saber o motivo ao longo de seu depoimento.

Pergunta: O que você está fazendo aqui na Tunísia?


Bashir Mustafa: Venho comprar remédios e materiais para exames em laboratório. Depois disso vou voltar para a Líbia.

Pergunta: Você pode viajar tranquilamente da Líbia para cá e vice versa? (ele pode? Por que nós não podemos???)

Bashir: Estou fazendo essa viagem pelo mar, é seguro, mas na região de Mstrata tem alguns problemas de vez em quando.

Pergunta: Quanto custa a viagem por mar?

Bashir: De Sfax a Mstrata custa cerca de 200 dinars... não muito.

Pergunta: O que você acha que está acontecendo na Líbia? O que é essa guerra, toda essa comoção?


Bashir: O que eu sei é que as forças de Gadaffi estão usando todas as armas de guerra que eles têm, como bombas, foguetes, tudo para matar civis, destruir construções e tudo mais.

Pergunta: As forças de Gadaffi estão usando tudo o que têm para enfrentar os rebeldes, é uma guerra aberta, franca, certo?

Bashir: Sim, sim, isso em Mstrata, eu vivo em Mstrata, porque as forças de Gadaffi estão usando todos os métodos para inibir essa revolução.

Pergunta: Você perdeu algum familiar nesses combates?



Bashir: Sim, sim. Acho que em todas as famílias de Mstrata, na maioria, foi perdida uma, duas ou mais pessoas... (Bashir estava muito emocionado quando falou isso)

Pergunta: Bashir, o mundo viu esse conflito começar no início do ano, mas qual foi realmente

o começo dessa oposição? O que houve antes da guerra começar de verdade?

Bashir: Eu sei do que vem passando em Mstrata. Lá começou tudo no dia 6 de março. Talvez as forças rebeldes tenham tentado atacar Gadaffi antes disso, mas eu não sei.

Pergunta: Você deve estar esperando que essa guerra termine logo, eu acredito. Qual lado você espera que vença essa guerra?

Bashir: Nós, claro, o povo! Essa operação de guerra é de todo um povo contra um homem, ou uma família, se você preferir, os Gadaffi.

Pergunta: Você quer falar para a gente o que você acha dos ataques da Otan?

Bashir: Sim, quero. A Otan está fazendo bem, mas acho que eles vieram para a Líbia para ajudar os civis, certo? A Otan começou os ataques em março, mas desse tempo para cá eu não sei quantas pessoas na Líbia morreram, mas em Mstrata foram 1,3 mil ou mais. Acho que mais. A Otan TEM FALHADO em salvar civis.

Neste momento, o consultor dos rebeldes, Habib Aribi Doui reentrou na conversa. A entrevista virou uma mesa redonda com quatro árabes falando, um brasileiro tentando mediar e um outro brasileiro tentando colocar todo mundo na objetiva da câmera.

Aribi Doui: As forças da Otan não têm salvado civis. As forças de Gadaffi matam civis todos os dias (durante os combates). A Otan não tem bombardeado as forças de Gadaffi todos os dias. Eles têm matado nosso povo em todos os fronts, em Mstrata, Benghazi e nas montanhas.

Pergunta: Mas o que eles estão fazendo?

Aribi Doui: A Otan não age e não enfrenta as forças de Gadaffi. A Otan não olha pelos civis na Líbia!

Pergunta: Vocês acham que os ataques da Otan poderiam ser mais efetivos?

Bashir: Sim! Mais efetivos. Eles podem fazer isso pelo ar, porque as forças de Gadaffi podem ser encontradas sem grandes áreas planas e abertas. Por que não bombardear? Por que não conseguem acertar as milícias???

Pergunta: Por que não conseguem? O que há de errado com eles? (não são eles que têm tanta tecnologia? Satélites, mísseis, bombas inteligentes?)

Aribi Doui: Nós não sabemos! A Líbia tem milhões de quilômetros quadrados. As forças de Gadaffi estão ao redor das cidades. Fáceis de achar. Eles poderiam fazer isso, mas não fazem....

Pergunta: Vocês acham que se a Otan entrar no seu país para finalizar esse serviço, eles vão ficar por lá?

Bashir: Eu acho que eles irão embora... Não, acho que eles DEVEM ir embora.


Amanhã, entrevista com jogador de futebol aqui do Brasil que mora e joga na Tunísia conta como foram os dias de revolta em Túnis e como é a vida ao lado de uma guerra. Também mostraremos como é o trabalho de quem tenta levar alimentos e remédios para dentro da Líbia.

Em busca de informações em Tunis

Ontem saimos em busca de informações sobre a guerra na Líbia, aqui mesmo em Tunis. Teoricamente, como as coisas começaram em março, não seria exatamente uma guerra, mas sim manifestações contra o governo líbio. Mas virou uma guerra mesmo.
Encontramos ontem alguns líbios em um hotel na capital da Tunísia e conversamos bastante com eles. Gravamos tudo em vídeo, em formato de entrevistas. Não é fácil, eu não sou um "native speaker" em inglês, nem eles. Um deles falava apenas em árabe, mas a comunicação foi OK. Estamos agora traduzindo.
Um dos entrevistados é um consultor militar dos rebeldes. É ex-militar do governo líbio e se prontificou a nos levar (eu e o cinegrafista) para dentro da Líbia nos esquivando dos combates. Estamos analisando... Não é uma decisão fácil. Estamos aqui sob convite do governo líbio para observar e fazer um relatório do que estamos vendo. Nosso compromisso é apenas com a verdade.
E a verdade é o suficiente para trazer a paz para este canto do mundo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

OTAN X Líbia - parte 1

De guerras e manifestações

Uma breve conversa com uma jovem tunisiana que despreocupadamente deixava a região em conflito coloca (mais) perguntas no ar

Molka Mahjoubi, com apenas 22 anos, está já com seu mestrado em economia em andamento. Ela entrou na escola aos 5 anos e sempre foi a mais nova da turma. Ontem, dia 15, ela estava aguardava o embarque para São Paulo no aeroporto Charles De Gaulle, onde eu aguardava, junto com mais oito brasileiros, o avião para seguir ao país de Molka, a Tunísia. Ela sorriu, despreocupadamente e comentou: “Você não é da Tunísia? Mas parece que nasceu lá. Passa por um de nós”.

A primeira coisa que tivemos vontade de perguntar à Molka, depois de saber que ela era tunisiana, foi sobre o que ela estava achando dos eventos em seu país. Horas antes, havíamos conversado via Skype com nosso contato líbio em Túnis sobre a nossa rápida passagem no país rumo a Trípoli. A informação era de que teríamos que passar a noite lá, pois havia conflitos sérios na região da fronteira entre os dois países. Molka não pareceu muito assustada com a situação, ela que havia acabado de deixar a Tunísia rumo ao Brasil. “As manifestações são pacíficas”, afirmou, franzindo as sobrancelhas em uma reação internacionalmente conhecida, como quem diz “as pessoas estão exagerando”.
Exagero ou não, a nossa delegação embarcou no vôo para Tunis com a certeza de que passaríamos a noite no país onde foi filmado o primeiro filme da saga Guerra nas Estrelas. O deputado Protógenes Queiroz, dentre nós o mais acostumado com adrenalina, em função de sua recente carreira na Polícia Federal, foi taxativo ao afirmar que seria loucura viajar de carro, mesmo que em um comboio reforçado, à noite, numa fronteira entre duas nações vivendo conflitos separados. “A Tunísia está vivendo um momento tranquilo, apenas com as manifestações, mas a Líbia representa perigo”, afirmou a jovem tunisiana, mestranda em Economia.

Anacrônica

Diferentemente do que vem acontecendo em sua terra natal, a Líbia vem sendo alvo de um bombardeio promovido pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma anacrônica aliança militar criada para enfrentar o Pacto de Varsóvia (os países da Cortina de Ferro, liderados pela extinta União Soviética) e hoje funcionando mais como uma “Legião Estrangeira” dos Estados Unidos.
Essa Legião Estrangeira, por coincidência, vem sendo liderada pelo presidente francês, Sarkozy, em uma dura cruzada contra a nação liderada há cerca de 40 anos por Muamar Kadaffi. No aeroporto Charles De Gaulle bastava uma passada pelas incontáveis lojas de jornais e revistas para constatar que a guerra de Sarkô contra a Líbia vem ganhando ampla cobertura da imprensa – principalmente sob o enfoque europeu. Nosso propósito, indo conferir pessoalmente a situação da Líbia, é tentar ajudar a ressuscitar aquela que é a primeira vítima em qualquer guerra: a verdade.
A bordo do avião para Túnis os jornais continuavam os mesmos e a preocupação de entrar em uma região de conflito aumentava, mas não a ponto de tirar o bom humor da delegação brasileira. “Explique-me como se diz ‘não atire em mim’ em árabe”, perguntei, eu, com minha cara de tunisiano à Molka, antes de deixar o Charles De Gaulle. Ela riu: “Não vai precisar disso. Além do mais, nossa língua é uma mistura de árabe, inglês e francês. É fácil se comunicar lá”. Provavelmente ela tem razão. O maior risco de se tornar alvo, na Líbia, vem do bombardeio aéreo.



Quem explode o quê?
Já na madrugada, em Tunis, consigo conectar na internet e vejo notícias da Reuters sobre rebeldes ocupando Zawiyah, que fica entre a Tunísia e Tripoli. O próprio governo da Líbia havia nos avisado sobre o evento, mas afirmando que a estrada entre os dois países estavam sob forte ataque da Otan. Exatamente por onde deveríamos passar.
Antes, no aeroporto internacional de Tunis, uma outra conversa dá outras tintas ao conflito. Um funcionário do setor de turismo local explica que pelo movimento de seu guichê não seria possível afirmar que a região está em guerra. ''Vejo líbios chegando e partindo livremente, como vocês'', explica. Para ele, é fácil entender os motivos dos protestos em seu país, mas estranha o movimento no vizinho.
O povo tunisiano aparenta ser bastante bem humorado. Deu para perceber isso já ao passar pelo oficial da alfândega e pelos funcionários que cuidam do raio-X. O homem do guichê de informações turísticas não foge ao estilo, mas quando comenta a guerra nas duas nações muda um pouco de expressão. "Aqui vivemos com menos liberdade, mas na Líbia é diferente. Eles têm mais liberdade e mais recursos que nós. Não dá para entender quem são aqueles rebeldes..."

Amanhã:
Hoje saimos à cata de líbios em Tunis e achamos. Conversamos com um consultor militar dos rebeldes que volta amanhã para a Líbia e mais três cidadãos que vieram aqui em busca de alimentos e remédios. Poderão conferir o outro lado da história diretamente da boca de líbios. Temos texto e entrevistas gravadas em vídeo.

*** faço parte de uma delegação brasileira convidada pelo governo Líbio para conferir os ataques da Otan. Minha missão pessoal é relatar o que de verdade eu encontrar por lá e no caminho até a guerra. Meu compromisso é com a verdade e acho que é possível manter esse compromisso. Quem achar que merece contraponto, veja a CNN, Reuters e France Press - todas de países membros da OTAN.

Direto de Túnis. Eu quero entrar na Líbia. E você não?

Estou neste momento em Túnis, capital da Tunísia, de mala e cuia pra entrar na Líbia. A Otan atrapalhou nossos planos ontem bombardeando a rodovia que liga a cidade de Djherba a Trípoli. Esse bombardeio foi exatamente o que permitiu que os rebeldes ocupassem temporariamente a cidade de Zawyiah, a uns 60 km da Capital da Líbia.
Aqui em Túnis, a uns 750km de Trípoli, a gente nem sente influência da Guerra. Só ouvimos o barulho das buzinas. E como tunisiano buzina!
O ataque da Otan à rodovia deve ser facilmente identificado com fotos aéreas - mas o espaço aéreo líbio está sob uma "quarentena" da coalizão que se formou ao redor de Kadhafi.
Desta forma, fica difícil para uma agência de notícias sacar ao certo como foram impostos os estragos e fica fácil para essa mesma imprensa julgar que essa força rebelde seria capaz de atingir seus objetivos sem o apoio da Otan.
Sem querer usar chavões como "ataque ilegítimo" ou outros do gênero, mas a questão é que a intromissão das forças lideradas por Sarkô e Obama são o mesmo que um exército internacional ajudar a torcida do Brasil de Pelotas a tomar o governo das mãos de Dilma Rousseff.
Ou seja: cada povo não deveria ter seu direito de se autodeterminar?
Não que a torcida do Brasil de Pelotas não possa se reunir e pensar em invadir Brasília...
Cada um, cada um...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dois pesos e duas medidas na Inglaterra

Hoje ouvi um debate entre jornalistas na CBN em Brasília comentando uma decisão do premiê britânico. David Cameron anunciou que deverá bloquear o uso de redes sociais na Inglaterra para tentar controlar os protestos que estão ocorrendo por aquelas bandas.
Fique surpreso quando os jornalistas brasileiros começaram a critica Cameron, afirmando que ele estaria fazendo uma burrice. "Ele tem que usar as redes sociais para detectar as mobilizações que esses baderneiros querem fazer", disse um jornalista.
O enfoque dos comentários foi de que Cameron deveria usar a mesma tecnologia que os manifestantes estão usando, mas para reprimi-los.
EU USEI a palavra MANIFESTANTES agora. Nos comentários, os jornalistas usaram o termo baderneiros.
Por um instante eu me peguei comparando os enfoques que a imprensa brasileira dá para as manifestações no Norte da África e o que aplica à Inglaterra.
Os líderes na África e no Oriente Médio são criticados por se manterem no poder durante décadas. Já no Reino Unido, a Rainha da Inglaterra, a Família Real, são citadas como elementos meramente figurativos...
Mas será que a influência econômica e política da Família Real não conta nada no jogo do Poder na Europa, no Reino Unido? Não seria ingenuidade demais acreditar que essa influência não existe?
Seria errado afirmar que uma mesma oligarquia comanda a Inglaterra há mais de um século?
Seria errado afirmar que os BUSH comandaram os EUA por 16 anos e que a oligarquia petrolífera norte-americana manda e desmanda no país da mesma forma como um ditador Líbio, Sírio ou Egípcio comanda por décadas seus países?
E por que chamar de ditadores tais governos, e não sugerir que tais oligarquias não o sejam?
O jogo político da DEMOCRACIA muitas vezes pode parecer bastante justo e permitir uma alternância do Poder... mas até que ponto podemos acreditar nisso?

A propósito, os comentários dos jornalistas hoje na CBN, sobre o assunto, cairiam muito bem na boca de diretores do SNI, CIA, Savak, e etc...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Em breve, notícias do outro lado do mundo

Se tudo der certo, dentro em breve teremos aqui, no textosecreto, uma série de relatos sobre um dos conflitos mais polêmicos do momento. Serão relatos feitos in loco, com fotografias, vídeos e textos de minha própria autoria.
É de esperar que sejam, no mínimo, posts interessantes.
Fiquemos atentos, então, ao blog.
Boa semana.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu não disse?

Odeio dizer "eu não disse?", mas no caso, vale dizer aqui: eu não disse?
Falo isso com relação à matança que ocorreu na Noruega.
Estive ocupado e não consegui postar nada aqui nas últimas semanas, mas o assunto não ficou antigo. Não mesmo!!!
Quando ocorreu a matança de Realengo muita gente disse que a solução era limitar a venda de armas. Eu disse que quando alguém matar mata de qualquer jeito. O doido na Noruega usou explosivos que poderiam ter matado dezenas de pessoas. Depois usou armas, sim, para matar quase 100 pessoas. Mas se ele não tivesse armas de fogo, faria mais bombas.
O problema não são as armas, mas os loucos que as usam.
O cara desenvolveu uma estratégia complexa para poder comprar material para explosivos (fertilizantes) sem chamar a atenção das autoridades. Abriu empresas fantasmas ligadas ao setor agrícola...
Ou seja, o fato de uma pessoa ser louca não quer dizer que ela precisa sair rasgando dinheiro e babando.
Volto ao mesmo questionamento de quando ocorreu a matança em Realengo: como detectar essas pessoas?