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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Voo (Parte 3)

Com a PT99 na mão direita, tremendo e arfando, Medeiros apoiava-se no banco ensanguentado de uma minivan, olhando para o túnel através da porta do veículo. Começava a ouvir os ruídos que vinham de fora, como buzinas que haviam disparado com as colisões e o som das chamas do caminhão tanque que ainda ardia em chamas e enchia o túnel de fumaça. Mas não ouvia passos. Não ouvia mais os dois homens se aproximando.
Reuniu forças e, lentamente, com o coração quase saindo pela boca, esgueirou-se para fora do veículo. Diante dele estava o corpo dilacerado à bala do homem que tivera - já morto - que usar como armadilha. Olhou para a direita e viu um dos homens que estava tentando matá-lo, emborcado no chão. Aquele não podia fazer mais nada.
Girou o corpo rapidamente para a esquerda, a PT99 à frente, e viu o outro homem, ainda vivo.
O seu oponente havia deixado cair a submetralhadora e estava muito ocupado tentando conter uma terrível hemorragia. O sangue espirrava dentre seus dedos, saindo de um rasgo no pescoço. Ele fitava Medeiros, com olhos que não deixavam transparecer nada. Nem ódio, nem dor, nem medo. Apenas olhava o sargento da Aeronáutica aproximando-se com uma pistola 9mm apontada em sua direção.
Medeiros puxou a MP5K, agarrando-a pela bandoleira, e, sem tirar a pira do rosto do homem, fez uma pergunta.
Nenhuma resposta.
- Quem mandou vocês, porra?
O sargento percebeu que o homem estava fora de combate e colocou a pistola no bolso de trás. Com dificuldade, conferiu que a metralhadora estava carregada ainda, com três pentes de 40 tiros soldados uns aos outros.
- Quem são vocês?...
- Você não vai escapar... - respondeu o homem, quase perdendo os sentidos, as mãos no pescoço fraquejando, deixando mais sangue jorrar.
- Nem você...

O Voo (parte 2)

Não era hora de ficar fazendo conjecturas. A motivação deveria ser essa, simples e direta: expôr a história. De resto, um passinho de cada vez.
Olhou para o veículo mais próximo, crivado de balas, e inspirou. E inspirou de novo. Procurou não pensar no ombro, pois iria doer de qualquer jeito...
Pôs-se de pé em um lance, correndo para a direita. No primeiro passo ergueu o braço direito, com a Taurus PT99 em sua extensão, premindo três vezes o gatilho na direção dos dois homens que avançavam em sua direção.
A dupla lançou-se para os lados, perdendo segundos preciosos, que Medeiros usou para chegar atrás do outro veículo. Um segundo depois, as MP5K matraquearam em sua direção.
Agachado, esgueirou-se rapidamente por trás de uma minivan que estava ao lado de sua primeira barreira. Rapidamente deu um golpe de vista através das janelas do veículo, onde o motorista jazia no banco, com o rosto deformado a tiros, e viu os dois vultos correndo, dividndo-se, um aproximando-se de cada lado, em um clássico movimento de pinça. Não vira mais ninguém, o que não era garantia de nada. Mas precisava aproveitar o fato de que os seus inimigos não o estavam vendo pelo fato de estar atrás dos dois carros - pelo menos não por alguns segundos.
Ainda procurando ignorar a dor do ferimento, sustou o passo, girou sobre o pé esquerdo e retornou à direção de onde viera, escancarando a porta da minivan. Ouviu as balas zunindo ao lado, enquanto empurrava com toda força o motorista morto para fora do veículo.
Como teria feito se estivesse pilotando um caça, usou um chamariz, atraindo o fogo inimigo para uma posição e, de dentro do carro, disparou a pistola para os lados em que estimava onde estariam seus oponentes. Os estampidos amplificados pela carroceria da minivan fizeram seu ouvido zumbir por uns segundos, enquanto ele, com apenas mais dois cartuchos na pistola, esperava que alguém surgisse diante da porta do veículo....

O Voo (Parte 1)

O sargento Medeiros abriu a porta do carro e tombou para o lado, caindo em meio aos cacos de vidros, pedaços de plástico e cápsulas deflagradas. Rolou para a proteção do bloco do motor, na dianteira do veículo, a despeito da dor que vinha da perfuração no ombro esquerdo. O braço todo estava amortecido, o que o obrigou a recarregar a pistola usando apenas a mão direita. Treinara aquele movimento há muito tempo e isso fez com que perdesse alguns segundos preciosos. Girou a cabeça e pôde ver dois vultos esgueirando-se entre a parede do túnel e uma fileira de carros destroçados. Testemunhou, com um aperto no peito, quando um dos homens disparou, com a metralhadora com supressor, dois tiros em uma mulher que tentava rastejar para longe das chamas.
- Filhos da puta!
O pensamento não ajudava em nada. Precisava te certeza de quantos de seus perseguidores haviam escapado da colisão com o ônibus e estariam em seu encalço. Não estava em condições de correr dali sem ser visto imediatamente e sabia que era seu último pente, com 14 cartuchos. Precisava entrar em foco, concentrar-se em escapar, mas não era isso que mais o afligia. Tantos já haviam morrido antes, outros agora, a sua vida - por ela própria - não fazia tanta diferença. O que fazia sentido mesmo era ficar vivo para expôr a história.
Mas expôr para quem? Em quem poderia confiar?

manancial de ideias



Vendo o teaser e lendo sobre o filme “Assalto ao Banco Central”, deu vontade de escrever sobre o público do cinema nacional e a sua percepção de realidade.

A

análise a seguir corresponde mais à forma como as pessoas percebem Tropa de Elite 2 do que a forma como o filme foi feito, como o roteiro foi escrito. Isso porque não conversei com o diretor ou o roteirista, e não pretendo tentar decifrar as intenções de ambos, nem dos produtores. A idéia é simples, apenas mostrar impressões que a produção e sua leitura passam em comparação com alguns conceitos.

O filme precisa mostrar realidade para convencer? O efeito que o filme tem com o público mostra a possibilidade da necessidade desse acordo tácito com o público. O contrato com a realidade parece ser fundamental para que a trama seja aceita. Não é um fenômeno novo nem aplicável somente ao nosso cinema e ao caso específico de Tropa de Elite 2. Isso representa uma não-aceitação da ficção com toda a sua liberdade ou indica que os temas de nossa ficção não se esgotaram e que ainda há obrigatoriedade para esse tipo de trama, que exija o cumprimento desse contrato. O fato fica bem evidente quando avaliamos, por exemplo, um filme que deverá seguir as trilhas de TE2, que é a história do assalto ao banco central.

Se é incorreto e pretensioso fazer uma análise das reais intenções de um cineasta acerca do que ele quis ou quer fazer em determinada obra, é procedente analisar algumas forças que podem tanger o cineasta nessa ou naquela direção. Por isso, é plausível o questionamento: nosso cinema deve ter sua produção limitada ao relacionamento direto com o noticiário? Nossa ficção deve ficar atrelada a esse contrato? Qual é a preocupação/necessidade do autor? Estabelecer contatos com a realidade para gerar referências de interesse, para criar uma relação de revelação (que na verdade faz contato inicial com a realidade para depois se afastar) ou ser forçado a atar amarras com a realidade, ficando ele preso não a um estilo de semidocumentário, mas sim preso à temática semidocumentarialista?

Como citei acima, as possibilidades da dramaturgia nacional não estão esgotadas, mas as histórias reais (no campo policial, thriller, suspense e espionagem) que podem servir de tema podem se esgotar. E como ficamos? Como o público receberia um filme como o último dirigido por Bem Affleck, THE TOWN?

(continua)

Marina e Nascimento

Boa visão da senadora no artigo cujo link segue abaixo:


Vale citar que é sinal dos tempos a sociedade valorizar, agora, a catarse como uma forma de abrir os olhos e gerar a indignação e não resignação. Como a senadora diz "Perplexidade que filme pode gerar é convite de não rendição às circunstâncias e de reencontro com nossa humanidade".
Ou seja, ao dar-se conta de que heróis podem existir, a população pode acreditar em mudança. Há um tempo, bem datado, o cinismo de nossa sociedade nunca aceitaria um comentário como esse.
Vale a pena, nesse espírito, dar uma olhada no bem humorado "Kick Ass", que fala exatamente sobre isso.

Trecho de livro novo

Vou postar, a partir de hoje, alguns trechos de "Neutralidade", aqui no blog.
Mais tarde começo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

190 milhões de vítimas e uma Black Ops livre

Isso aqui é muito interessante.

Associação recolhe 36 mil assinaturas contra impunidade após acidente do voo da Gol


A associação das famílias de vítimas do acidente entre o jato Legacy e o voo 1907 da Gol recolheu 36 mil assinaturas em uma campanha para cassar a autorização de pilotar dos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, tidos como os principais responsáveis pelo acidente --o jato pilotado por eles bateu contra o Boeing da Gol e deixou 154 mortos, há exatos quatro anos.

Conheça também meus livros de espionagem: textosecreto.blogspot.com

Acidente da Gol

Um absurdo. Os dois pilotos americanos (Lepore e Paladino) que pilotavam com o transponder desligado estão livres nos EUA. Agora, um controlador de vôo brasileiro foi condenado. Pode?
Teorias de conspiração a parte, com a velocidade que o governo dos EUA veio cuidar dos dois pilotos o caso lembrou um acidente com pilotos da Blackwater na Ásia (vide o livro do Jeremy Scahill). E mais, naquela mesma época o governo americano vinha usando jatos como aqueles para seus rendition flights. Voos usados para fazer prisões clandestinas e interrogatórios em função de 11 setembro.

Política e cinema

Em tempos de sucesso no cinema nacional com Tropa de Elite 2, que deverá faturar mais de R$ 100 milhões em pouco mais de 3 meses, entra em discussão no Senado Federal programa para ampliação do número de salas de cinema no país.

Confira outros links daqui:

http://textosecreto.blogspot.com/2010/10/para-quem-nao-sabe.html

http://textosecreto.blogspot.com/2010/10/heroi.html


MP que incentiva cinemas deve ser a primeira enviada ao Senado


Ao retomar as votações do Plenário, após as eleições deste domingo (31), o Senado deve votar a medida provisória que institui o Programa Cinema Perto de Você, destinado à ampliação, diversificação e descentralização do mercado de salas de exibição cinematográfica. A MP 491/10 ainda tramita na Câmara, onde está trancando a pauta do Plenário, e tem prazo para ser votada pelo Congresso até o dia 3 de novembro, devendo, portanto, ser a primeira a chegar ao Senado.

A MP prevê abertura de linhas de crédito e de investimentos e concessão de medidas tributárias de estímulo à expansão das salas de cinema. Um dos objetivos é reduzir o preço dos ingressos para aumentar o número de frequentadores das salas de cinema no país. Ela também institui o regime especial de tributação para o desenvolvimento da atividade de exibição cinematográfica (Recine), que beneficiará empresas desse setor.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Quem quer ganhar ganha

Quer um exemplar de Souvenir Iraquiano e/ou de Fronteira? Basta enviar seus dados para o email textosecreto@gmail.com. Depois de assumir compromisso de expressar opinião neste blog, vai receber o(s) exemplares pelo correio. Quem não souber do que se trata os livros, clique no link: http://textosecreto.blogspot.com/2010/10/para-quem-nao-sabe.html

Herói 2

Souvenir Iraquiano e Fronteira são provas de que é possível criar romance de espionagem no Brasil atendendo a principal "regra" do gênero: o pacto de veracidade. Uma boa teoria da conspiração deve ser plausível. Deve dar a impressão ao leitor/espectador que ela tenha realmente ocorrido. Souvenir tem como pano de fundo a ligação do Brasil com o programa nuclear de Saddam Hussein, diretamente na construção da usina nuclear de Osirak. Fronteira tem como ponto de partida uma missão do SNI na Somália, no início dos anos 80. Meu futuro livro, Neutralidade, terá como ponto de partida a possibilidade (real) da Argentina ter emparedado, no início da guerra, a Inglaterra. Meu próximo projeto, após esse, será ligado a uma operação do SNI no Suriname, a pedido da CIA. Tem tema...

Herói


Considerando o sucesso do coronel Nascimento, que o público e a crítica está aceitando a sua condição de herói, quanto tempo vai levar para que tenhamos um herói também, na ficção, dentro do gênero de espionagem? O que tornou plausível o reconhecimento de Nascimento como herói é o pacto de veracidade do filme. A ligação com a realidade. É fazer com que seja plausível. Soma-se a isso, também, uma trama que envolve muito e permite que o público esqueça seu natural cinismo.
O mesmo cinismo que faz com que chamemos Jason Bourne e 007 de "espiões", e não de arapongas.
Nada me irrita mais do que esse termo.
Isso aí na foto é araponga...

Download romance Fronteira

Um dos posts mais vistos aqui do blog é o que tinha um link para o download do romance "Fronteira". Pois bem, o link não existe mais. No entanto, o livro está sendo vendido através do email textosecreto@gmail.com. Custa R$ 29,00. O romance "Souvenir Iraquiano" também está disponível pelo mesmo preço.

Verdade e ficção


Vejo, nos comentários das pessoas que foram ver Tropa de Elite 2, um destaque grande, uma valorização da ligação da trama ficcional com a realidade. Isso é um link muito importante para o romance de espionagem: Não apenas uma questão de pacto de veracidade, de verossimilhança, mas também o fato de oferecer ao público uma sensação de entrar em contato com informações que antes eram-lhe negadas.
Esse é um princípio presente em praticamente toda a literatura de espionagem e é algo que procuro mostrar em meus romances do gênero. Fiz esforço para que pudesse mostrar isso em "Souvenir Iraquiano" e "Fronteira", e está dando um belo trabalho fazer o mesmo em "Neutralidade".
Comecei a perceber a possibilidade de conseguir esse efeito após ler "Rede de Intrigas", livro de Roberto Lopes (foto). "Fronteira" e "Souvenir" saíram de lá, poderia dizer. Recomendo a leitura.

Próximo livro




Está difícil, mas vai sair. "Neutralidade" é o nome provisório do romance que estou finalizando. Trata-se de uma teoria da conspiração sobre o envolvimento de um submarinista brasileiro em uma megaoperação de espionagem militar desencadeada pelo governo britânico na Guerra das Malvinas. O objetivo era impedir a morte de um herdeiro da coroa britânica em meio ao gélido Atlântico Sul.
Recebi apoio da Marinha de Guerra para a obtenção de informações.

Para quem não sabe


Pois bem, para quem não sabe, "Souvenir Iraquiano" conta a história de três homens que tentam, no início da Guerra do Golfo, colocar as mãos em uma fortuna em relíquias removidas dos escombros da usina de Osirak, que havia sido bombardeada pelos israelenses em 1981. Os personagens principais são um engenheiro brasileiro que participou da construção da usina, um militar iraquiano que quer desertar, depois de ter passado oito anos no front, na guerra contra o Irã, e um agente da CIA que faz parte da coalizão que faz o cerco ao Iraque antes da guerra.
"Fronteira" é a história de Marie Helene, uma missionária que tenta desesperadamente remover cerca de 250 crianças somalis do território etíope, no final da guerra entre os dois
países. O caminho dela se cruzará com um grupo de agentes brasileiros do SNI que foi para a Somália em uma operação secreta: prospectar urânio para o programa nuclear de Saddam Hussein.

sábado, 23 de outubro de 2010

Ficção ou realidade

Como disse, no final das contas todo romance policial é calcado na realidade. O fenômeno Tropa de Elite chama atenção é porque no Brasil ninguém fazia romance policial. Então agora o público percebe que é possível fazer filmes policiais com a realidade brasileira.
Ver isso é interessante, pois demonstra claramente como fomos forçados a acreditar que certas manifestações culturais pertenciam apenas a outras sociedades. Falo exatamente sobre isso dentro do âmbito do romance de espionagem em minha dissertação de mestrado, e seguindo essa lógica consegui escrever dois romances de espionagem brasileiros e estou no terceiro.
Quem quiser conhecer os livros, é só dar um toque.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Realidade

Vejo muita gente dizendo assim: "Tropa de Elite 2 é um filme excelente, retrata a realidade brasileira mesmo".
Faz pensar algumas coisas. Tropa de Elite 2 não é um tratado cabal e definitivo sobre o tema segurança pública. É um filme de ficção. É um filme policial. O primeiro Máquina Mortífera, de Richard Donner, é um filme policial. Com Mel Gibson no elenco, mostra uma gang de ex-militares norte-americanos que descobriram as vantagens financeiras de levar do sudoeste asiático para os EUA carregamentos de drogas. É fantasia? Não. É verdade. O pano de fundo é verdade.
Esse mesmo pano de fundo foi utilizada em American Gangster, de Ridley Scott, com Denzel Washington. Outros filmes trataram do tema.
Os Intocáveis, de Brian de Palma, falou de máfia e de Al Capone. Outros filmes fizeram o mesmo antes e depois. Outros ainda virão a fazer. Michael Mann tratou do tema com o recente O Inimigo Público, com o Johnny Depp.
Falo isso porque é interessante que o público não trate Tropa de Elite 2 como um manifesto político ou um ensaio. Não é. É um filme. Outros deverão vir, poderão merecer o mesmo sucesso ou até mesmo maior sucesso. Isso porque o grande valor de Tropa de Elite 2 foi ser visto como produto mesmo, e não como um filme para ganhar festival, para ser a visão definitiva sobre determinado assunto. Até mesmo porque isso não existe.
Essa é a opinião de um espectador que espera que outros filmes policiais sejam feitos no Brasil, de forma tão competente quanto esse que José Padilha e Bráulio Mantovani fizeram.

domingo, 17 de outubro de 2010

A porta que o Tropa abre


Parece que José Padilha e Bráulio Mantovani falaram, sobre o lançamento de Tropa de Elite 2, que o filme poderia suscitar o debate sobre violência entre os presidenciáveis. É uma pena que isso não está acontecendo. Sinceramente, era de se esperar. O tema é bom, mas o enfoque do filme coloca os políticos em saia justa. Para eles, melhor deixar de lado.

Mas não é apenas esse debate que o filme tem o potencial de levantar. Tirando fenômenos sociológicos do caminho, Tropa de Elite 2 é o pontapé ideal para discutirmos a nossa indústria cultural, a cinematográfica em especial. Com uma projeção de faturamento na ordem de R$ 100 milhões em 3 meses, o filme vai se pagar. Essa previsão é com bilheterias, e no segundo final de semana o filme mostrou fôlego para continuar faturando horrores. Isso é muito bom.

Deixando de lado que o filme é uma sequência e tem um tom quase épico, Tropa 2 abre as portas para um novo modelo de cinema no Brasil, que não é nada novo lá fora: O cinema comercial, aquele do qual os nossos cineastas fugiram por décadas, como se fosse um pecado. Praticamente todos os cineastas brazucas queriam ser Truffaut ou Goddard, e hoje devem se surpreender que já faz um tempinho que seus colegas franceses cederam aos bons resultados do cinema americano, que segue nada mais do que os modelos mais clássicos de contar histórias.

Que mal há em pagar as contas? Que mal há em gerar uma indústria forte sedenta por títulos novos e que estimule o surgimento de uma leva de novos autores e incendeie o mercado editorial brasileiro, que é tão morno e acomodado? Que mal há no público curtir uma catarse que seja nossa, e não de outras culturas (que raios me interessa se Jason Bourne conseguiu se vingar da CIA, que o destruíra como ser humano?) ?

Produtores culturais e empresários devem olhar para o fenômeno e ficar bem atentos. Um investimento de R$ 18 milhões poderá render fácil R$ 200 milhões. E gerar filhotes. A Rede Globo, espertamente, lança DVD com episódios de Força Tarefa, que já era um resultado da influência do primeiro Tropa e de seriados e novelas da Record, de cunho policial. Catarse dá dinheiro, alimenta o ego do público, faz com que as pessoas se sintam melhores e pode gerar uma semente muito boa: a semente da indignação.

Entro aqui um pouco na sociologia da qual fugi antes. Mas acontece que vivemos no Brasil há mais de 100 anos sob a ditadura do ceticismo do modelo do antiheroi. Ceticismo, ironia e imobilismo. Abordo isso, de certa forma em minha dissertação de mestrado que trata da presença do romance de espionagem no Brasil e deve render tese de doutorado. Somos céticos com nossa possibilidade de mobilização diante do mal e adotamos a ironia como ferramenta de lidar com isso. Ironia e humor. Rimos da ditadura, da corrupção e de todas as nossas mazelas, e isso de nada adianta. Comandante Nascimento não ri de nada disso.

John Rambo não ri. Jason Bourne não ri e outros heróis com os quais nos acostumamos não riem diante do que a narrativa trata de encarnação do mal. E todos nós curtimos essa luta entre o bem e o mal, principalmente quando o bem vence.

Não digo que o mal não possa vencer na ficção, como costuma acontecer na vida real, mas precisa ser sempre????

Essa porta que Tropa abre é boa para muita gente que está tentando entrar no mercado há anos e não consegue porque a indústria cultural não tem olhos para o novo no Brasil. E não tem olhos porque não existe demanda. Mas se tiver produtor cultural e empresário esperto nesse país, vai ver que esse filme de José Padilha e Bráulio Mantovani abre um novo referencial, mostrando que é possível ganhar dinheiro aqui com cinema como se faz em Hollywood, Hong Kong ou Nova Delhi. E para poder entregar novos títulos de thrillers, policiais, aventuras, filmes de ação e outros gêneros que fazem um sucesso danado nas nossas videolocadoras, vão precisar de mais autores, mais diretores, mais roteiristas, mais atores, mais dublês e mais técnicos em efeitos especiais.

Isso é um bom começo. Ou não?

Thriller, ação, espionagem e policial

Leia abaixo meus posts sobre Tropa de Elite 2. Por quê? Sou escritor, trabalho com thriller de espionagem e estou comemorando o sucesso do filme. Abaixo tem umas análises minhas, feitas levando em conta meu mestrado em Literatura, no qual estudei os romances policial e de espionagem e a presença/ausência do herói na nossa literatura!
Confira também meu novo romance: "Fronteira". Sou autor, também do romance "Souvenir Iraquiano". Cada exemplar custa R$ 29. Envio pelo correio.

É segredo ou não é segredo?


Uma boa história é uma boa história. "Quem quer ser milionário?" tem uma boa história e é contado de uma forma muito legal, sem frescuras, sem glauberismos ou goddardismos. Um filme inglês passado na Índia com atores de lá. Tropa de Elite 2, assim como o primeiro, tem uma boa história contada de uma forma simples, linear, com um flashback longo, sem frescuras.
Os dois filmes falam de situações, experiências que não são como a gente está acostumado a ver no cinemão habitual. Não é um policial ambientado no submundo do brooklin ou uma trama de espionagem rolando em cenários exóticos na Europa e na Ásia Menor. O filme vai fazer sucesso no mundo todo porque é uma boa história narrada de uma forma simples. Mais gente vai gostar porque mais gente vai entender.
O filme, para fazer sucesso no Brasil, não precisa exatamente tratar de um tema brasileiro, precisa, sim, ser bem feito. Precisa ter uma narrativa eficiente. Nisso a dobradinha José Padilha e Bráulio Mantovani acertaram em cheio, melhor que no primeiro filme.
A projeção é de que o filme fature R$ 100 milhões em 3 meses. Depois teremos DVDs, depois direitos para TV e distribuição no Exterior. Vai render muito. Um filme só, rendendo pacas. E ainda tem o livro.
Espero que Tropa de Elite comece a render filhotes no cinema, como já rendeu na TV. Precisamos fortalecer nossa indústria cinematográfica, para que surjam mais empregos para escritores, atores, cenógrafos, etc Isso vai aumentar o interesse de nosso mercado editorial por novos títulos que poderão se transformar em filmes.
E tudo isso acontece por quê? Na minha opinião, porque Tropa de Elite 2 mostra um Padilha e um Mantovani muito mais à vontade para oferecer um heroi ao público. Um heroi e catarse.
Se podemos curtir a catarse com Jason Bourne, John Rambo e outros, vendo o bem vencer o mal, por que não podemos ter catarse no nosso cinema, com nossa cultura, com nossos temas? Alguns críticos de cinema estão apontando a presença da catarse em Tropa como se fosse algo ruim. Eu gostaria de entender o motivo.
O filme é uma obra de ficção, uma peça de entretenimento. Não é um documentário, uma obra sociológica. Tem gente que tem que deixar de ser chata...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Primeira impressão de Tropa de Elite 2


“Eu creio que o romance sempre foi um testemunho rebelde, de insubmissão. Em todas as épocas os romances flagraram nossas carências, tudo aquilo que a realidade não nos pode dar e que, de alguma maneira, desejamos”. As palavras são do escritor premiado com o Nobel, Mario Vargas Llosa, citadas em recente entrevista e caem como uma luva sobre Tropa de Elite 2.

No primeiro filme a intelectualidade brasileira, ofendida com os ataques à classe média e aos “pensadores” usuários light de drogas, atacou José Padilha com a estampa de “fascista”. Em Tropa 2 o diretor deixou essa turma em paz e ofereceu, de forma mais clara, aquilo que Vargas Llosa descreve nas palavras acima: catarse. O filme, um romance em imagens, dá ao público a sensação de vingar-se de todo um sistema corrupto e criminoso que está hoje nos jornais, nas revistas e na TV, e contra o qual o público, de verdade, pouco pode fazer contra.

Seguindo um modelo clássico de narrativa, o filme, assim, oficializa a posição de capitão Nascimento como um herói brasileiro, e não como um antiherói, como quiseram taxá-lo, injustamente, no primeiro filme. Injustamente mesmo, porque o antiherói propriamente dito não age, se deixa levar. Um antiherói não é um vilão e também não é um herói politicamente incorreto. Nascimento não é nada disso, nem nunca foi. Nascimento é um herói.

Isso fica claro em qualquer sessão de Tropa de Elite 2 nos cinemas em Porto Velho, assim como em qualquer canto do Brasil. O público grita e aplaude no final da fita. Faz isso porque se sente bem com o senso de justiça básico de uma narrativa simples onde o Bem, sempre, tem que vencer o Mal.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tropa de Elite Osso Duro de Roer 2

Amanhã quero ver Tropa de Elite 2. Tentei ir no final de semana, que foi prolongado, mas não deu. A intenção é ver o filme e depois escrever alguma coisa para postar aqui. Gostei do primeiro. Considero um marco do cinema de entretenimento no Brasil. O motivo é simples: o filme, para mim, soube ser maniqueísta na dose certa. Acontece que a grande maioria dos intelectuais no Brasil não curte muito maniqueísmo. Isso, de certa forma, é uma espécie de maniqueísmo, porque você estabelece que uma coisa não presta e pronto.
Tropa de Elite se deu ao direito de ter um herói, o capitão Nascimento. Teve gente chamando ele de anti-herói, o que, eu acho, não convém. O fato de Nascimento não agir de acordo com a forma como a crítica especializada espera que ele devesse agir, não o coloca como um anti-herói. Exemplifico: John Rambo é herói. A estrutura dos filmes (e do livro) que exploram o personagem não deixa dúvida. No entanto, ele não age como hoje poderíamos chamar de "politicamente correto". Mas alguém tem alguma dúvida de que seja herói?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Grana para parar

Ah, meu Deus, essa notícia aqui abaixo é muito engraçada. Os fãs de uma banda, insatisfeitos com os caminhos tomados pelos músicos, quer juntar 10 milhões de dólares para pagar uma aposentadoria forçada para eles!
Se a moda pega e leitores decidem que eu devo parar de escrever? Tô mais baratin! Qualquer R$ 500 mil já me ajuda!
Vambora!!!! Comecem a fazer o caixinha antes que eu publique outro livro!

Um grupo de fãs da banda Weezer resolveu oferecer dinheiro para que a banda pare de tocar, informa o jornal britânico "The Guardian". Frustrados com o declínio da banda, que segundo eles não conseguiu superar o álbum "Pinkerton" (1996), eles estão arrecadando US$ 10 milhões para oferecer aos integrantes do grupo como recompensa pela aposentadoria "forçada". "Eles têm que parar de decepcionar os fãs. É uma relação abusiva que tem que terminar", afirma o criador da campanha, James Burns. "Todos os anos, Rivers Cuomo (cantor, compositor e guitarrista) jura que mudou e que o novo disco vai ser o melhor que eles fizeram desde 'Pinkerton', mas aí vem outro monte de porcarias", contou. "Eu imploro, Weezer", pediu. Peguem nosso dinheiro e desapareçam." O baterista da banda, Patrick Wilson, comentou no Twitter que se a campanha arrecadar US$ 20 milhões eles farão uma "parada de luxo". Até o momento, a campanha arrecadou apenas US$ 273.

Mudando de assunto

Agora tem gente tentando criar uma explicação bonita, social, para a candidatura do Tiririca. Deixa o Palhaço Legislar, dizem. Qual palhaço? Ele ou os palhaços que subirão a reboque com os votos dele?
O Tiririca é um palhaço que não deu certo na TV (sua carreira estava onde mesmo?), viveu uma bolha desprezível de sucesso com bobagens como Florentina e Veja os Cabelos Dela, coisas que precisam ser pinçadas com o Google. Assim como tantos outros caras que dizem: caramba, o que eu faço agora????, ele aproveitou a popularidade para conseguir um biquinho no Estado.
Mais que isso, ele abriu alas (não sejamos inocentes) para uma galera que vem atrás... Quem pagou a conta?
Imaginemos Tiririca gastando alguns milhões numa campanha...

terça-feira, 5 de outubro de 2010