terça-feira, 30 de novembro de 2010
Pesquisas para escrever romance de espionagem
Para escrever meus dois livros de espionagem, “Souvenir Iraquiano” e “Fronteira”, tive que fazer pesquisas sobre temas militares e de segurança. Em Souvenir busquei informações sobre a atuação do Brasil no programa nuclear do ditador Saddam Hussein, no Iraque, nos anos 80 do século passado. Precisei também fazer uma reconstituição da Coalizão, a operação militar que foi empreendida pelos EUA e os países aliados para a retomada do Kuwait, na primeira Guerra do Golfo, em 1991. Fiz uma série de entrevistas com profissionais brasileiros que trabalharam no Iraque nos anos 80, para saber como era a vida lá e o que esperavam os brasileiros que lá estiveram.
Para escrever Fronteira pesquisei um evento que envolveu o Serviço Nacional de Informação (SNI) em uma operação para prospectar urânio na Somália, para enviar ao Iraque. Tive que pesquisar também as relações de espionagem no norte da África, a presença da CIA, do Mossad (o serviço secreto israelense) e a KGB.
Para meu próximo romance, que tem o título provisório de “Neutralidade”, estou pesquisando os eventos da Guerra das Malvinas, as relações secretas que ocorreram durante a guerra, os armamentos envolvidos e, principalmente, técnicas de guerra submarina. Recebi apoio do Ministério da Marinha, que colocou em contato comigo um comandante de submarino com quem conversei durante meses, e com quem ainda mantenho contato.
Acredito que a pesquisa é fundamental para fundamentar um romance de espionagem, para poder criar um mínimo de plausibilidade. Afinal de contas, o ponto forte do gênero é a ligação com a realidade e a possibilidade de um evento narrado no livro ter realmente acontecido.
Para isso, estou procurando me cercar de todas as fundamentações políticas, militares, físicas e lógicas para basear uma teoria da conspiração muito interessante que está no cerne de “Neutralidade”.
Quem tiver interesse em conhecer meus romances “Souvenir Iraquiano” e “Fronteira”, basta dar um toque.
Conta de celular cara
O engraçado é que temos milhões de celulares, o consumo cresce a cada dia e mesmo assim as empresas de telefonia celular não parecem entender que vale a pena faturar mais por quantidade do que pelo preço. Outra coisa que cismam em continuar fazendo é cobrar uma fortuna por aparelhos.
Pagamos conta de celular mais caro do que nos EUA, isso seria óbvio. Mas pagar conta mais caro que na China e na Índia?
Outra coisa interessante é que nos empurraram a idéia de que o sistam GSM é o mais avançado. Mas é mesmo? Conferindo lançamento do primeiro celular com touchscreen e flip (acho que não existia outro) vi que foi lançado em CDMA...
Tem que pegar a grana dos caras
"Os chefes do tráfico no Brasil têm negócios - até mesmo legalizados - em doze países diferentes, revela o assessor-chefe das Nações Unidas para temas de segurança, Edgardo Buscaglia. Professor de Direito do Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM), ele analisa em entrevista a Terra Magazine o quadro atual do Rio de Janeiro e afirma que, além da atuação das polícias e Exército, será preciso combater as redes financeiras que sustentam o crime organizado.
- Os traficantes brasileiros estão presentes na economia formal de vários países. Você pode vê-los na Argentina, na Colômbia... Os bens de familiares de traficantes têm que ser confiscados. Isso não é feito de forma suficiente pelo governo brasileiro. Essa rede financeira é onde está o poder dos traficantes presos.
Buscaglia estuda o funcionamento de diferentes organizações criminosas, especialmente os cartéis de drogas do México. Ele diferencia o tráfico carioca do mexicano, mas aponta ligações entre os grupos dos dois países.
- As organizações criminosas brasileiras não são as maiores do mundo, são ainda limitadas se comparadas às mexicanas ou às chinesas. Mas elas estão crescendo e o motivo pelo qual elas estão crescendo é que seus bens não têm sido suficientemente confiscados." (Fonte: Terra Magazine)
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Livros
Comentários sobre os comentários
Publico aqui dois comentários que foram feitos no post abaixo.
De cara eu digo que concordo com ambos os comentários, mas acho que é preciso fazer alguns adendos.
Em primeiro lugar, é óbvio que as pessoas sofrem com a varredura das casas. Isso é inevitável. As residências dessas pessoas precisam ser vistoriadas, tem gente sendo mantida como refém. Seria impossível vasculhar o Complexo do Alemão sem entrar nas casas. Alguém tem uma solução diferente para o problema?
O povo nunca acariciou o governo e agora vê motivos para isso. Ainda não é o suficiente, mas é um começo. Tardio, mas precisava começar em algum ponto. Não temos ainda máquina do tempo para voltar 30 anos e corrigir erros.
Depende agora do povo fazer com que o Estado seja uma ferramenta sua, e não apenas das elites.
A guerra contra o narcotráfico vai muito mais fundo mesmo. Já comentei aqui algumas idéias de caminhos a serem tomados para chegar aos barões do tráfico, independentemente de onde quer que estejam, no Rio, em São Paulo, Florianópolis ou Brasília.
A falta de treinamento dos policiais é evidente. O tempo de formação é insuficiente, os salários idem.
O momento da ação, como já disse, foi esse. Não tem como voltar atrás no tempo e ninguém gostaria que fosse deixado para depois. O motivo é a Copa? Foram os ônibus e carros incendiados? A morte do arquiduque Ferdinando? Sinceramente, tanto faz, contanto que aconteça, que siga em frente. Não interessa mais, nesse momento, a cor do pato. O povo brasileiro precisa dos ovos. O motivo não desqualificará a ação se ela for bem engendrada e surtir os efeitos necessários.
Mas não caberá apenas ao Estado fazer com que isso tudo funcione.
Eu não moro em favela e sei que há muitos criminosos de terno e gravata. Criminosos que precisam da bucha de canhão que mora nas favelas. Acontece que ao derrubar uma cabeça, surge outra. Já cortando as “patas” dessa Hidra, ela vai perdendo a força. Quem faz o dinheiro dos barões, dos líderes, são os soldados, os aviões e os consumidores.
Ninguém quer sair matando os “peões” do crime organizado, mas é preciso fazer com que eles se sintam, neste momento, desestimulados pela força, porque agora não há como chamar esse pessoal para escolas. Vejam o que o próprio líder do AfroReggae disse hoje, em entrevista abaixo.
Projetos de ampliação do IDH são fundamentais, mas não serão completamente eficientes. Basta ver que, como vcs mesmos disseram, tem muito criminoso com berço de ouro e que tiveram todas as oportunidades.
A guerra é difícil, amarga e é puro dissabor, mas precisa ser lutada. Tem etapas que a maioria gostaria de pular. Mas precisam ser vivenciadas.
2 comentários:
hansponto disse...
Quanto a posição do Estado com civís, existem denuncias por toda a web afirmando que populares sofrem com a varredura nas casas. O governo deu a 'tapa' e agora está querendo 'alisar'. O povo está acariciando o Estado como se fosse um animal de estimação. E ai onde eu bato na tecla, o estado representa mesmo o povo fazendo o que está fazendo? Seria o estado uma ferramenta do povo ou uma ferramenta que trabalha com o óleo de nossos impostos e gira ao favor dos mais fortes? Sabemos todos que a guerra contra o tráfico vai mais fundo, muito mais. Policiais destreinados, insatisfeitos, grossos, despreparados e um estado que só faz alguma coisa quando o sangue de quem não tem nada a ver com história está no chão.
Bom ou ruim, a atitude do estado foi tardia, isso implica em uma reação barata, com estimulos politicos. Quem tem olhos pra ver, sabe que o que está acontecendo no Rio vai ser colocado na conta da Copa e não do Papa como foi dito em Bope
29 de novembro de 2010 10:59
Dan Fernandes disse...
O estado falhou, a imprensa falhou, a moral falhou, a justiça falhou, o cidadão falhou...
Só quem mora em uma favela sabe que os 'cidadãos de bem' não são tão inocentes assim, afinal muitos são preconceituosos e arrogantes. Nem tudo se resume economicamente, um pouco de respeito faz alguma diferença. Acho desrespeitoso, por exemplo, uma pessoa que morra na Barra (uma das partes mais luxuosas da cidade) dizer "-Graças a Deus que eu moro na Barra e lá não tem estas coisas!", quando uma pessoa diz isso é equivalente dizer "-Desgraçadas de Deus que essas pessoas moram em tal lugar!".
Medidas imediatas e outras gradativas
Infelizmente o Estado falhou na distribuição de renda e no IDH, e os resultados estão aí. Logo, uma coisa vem depois da outra, infelizmente, e não o contrário.
Cientista assassinado no Irã
Seria isso o longa braço da CIA e do Mossad?
Cientista nuclear é assassinado no Irã
Explosões deixam mais três pessoas feridas, uma delas é outro físico; televisão acusa Israel
TEERÃ - Um professor universitário e físico nuclear foi morto na explosão de um carro-bomba em Teerã nesta segunda-feira, 29, indicou a o canal iraniano Al-Alam.
Três outras pessoas ficaram feridas em outro atentado semelhante na cidade. A emissora disse que um dos feridos no segundo atentado também era professor de física nuclear.
O cientista morto é Majid Shahriari, da Universidade Shahid Beheshti, informou a agência estatal de notícias iraniana, a Irna. É a segunda morte de um cientista nuclear provocada por um atentado no ano - a primeira ocorreu em janeiro.
Segundo a Irna, homens em motocicletas colocaram bombas nos carros dos cientistas enquanto eles se dirigiam ao trabalho. O canal acusa Israel, principal inimigo do Irã no Oriente Médio, de estar por trás dos atentados.
"Em um ato criminoso de terrorismo, agentes do regime sionista atacaram dois proeminentes professores universitários que estavam a caminho do trabalho", diz uma nota no site da Irna. O professor ferido é Fereydoon Abbasi. As outras duas pessoas feridas são as esposas de cada um dos cientistas.
Segundo o site conservador Mashreghnews, Abbasi é "um dos poucos especialistas que pode separar isótopos" e é membro da Guarda Revolucionária desde a revolução de 1979.
O Irã diz que seu programa nuclear é puramente pacífico, voltado para a produção de energia nuclear, mas a suspeita de que esteja procurando fabricar armas atômicas levou as Nações Unidas, a União Europeia e os Estados Unidos a imporem várias rodadas de sanções contra o país.
Entrevista AfroReggae
'O governador não merecia um banho de sangue', diz líder do Afroreggae
RIO - Era 1h30m de sábado, depois da tomada da Vila Cruzeiro pela polícia, quando o coordenador do grupo AfroReggae, José Júnior, de 42 anos, recebeu o telefonema de um dos chefes do Complexo do Alemão, convidando-o para conversar no alto do morro. Não foi fácil para Júnior atender ao chamado de pronto, uma vez que, há 40 dias, descobrira que era a "bola da vez", sentença decretada justamente pelo bandido que lhe fazia o convite. Não subiu o morro de madrugada, mas por volta de 10h, lá estava ele, no coração da comunidade, cercado por 60 traficantes. Segundo Júnior, todos com medo de morrer ou de ir para cadeia. Embora assegure não ter mediado a rendição, o resultado de "suas sugestões", como fez questão de dizer, ajudaram no sucesso da operação: o fim da guerra sem banho de sangue.
( Veja trechos da entrevista )Você foi o mediador entre o governo do estado e os traficantes para acabar com a guerra no Complexo do Alemão?JÚNIOR: Não. Não podia ser o interlocutor. Não estava representando o governo, nem os bandidos. Não queria ser porta-voz de ninguém. Fui lá para fazer algumas sugestões. Achei que podia ajudar as pessoas e evitar um banho de sangue. Eles me chamaram para conversar e eu fui lá por conta própria. Até mandei um e-mail para o governador Sérgio Cabral para isentá-lo de qualquer coisa, caso algo acontecesse comigo.
Que tipo de sugestões você fez?JÚNIOR:Para eles se renderem, porem a mão na cabeça.
Como foi o encontro com os bandidos? Eles estavam dispostos a se render?JÚNIOR: Chegando lá, o clima tava muito tenso. Vi pessoas muito abaladas, com muito medo de morrer e de ficarem presas. Ouvi bastante. Disse que podia estar presente para dar segurança para eles. Tinha a palavra do Allan Turnowiski (chefe de Polícia Civil) de que ninguém seria humilhado ou seria morto. É o que está acontecendo. Eles diziam que não queriam se entregar, que era difícil, teriam que puxar uma cadeia longa (ficar muito tempo preso). Então eu disse: se não se entregarem, vocês vão morrer. Alguns se emocionaram muito.
Então, teve acordo?JÚNIOR: Não teve acordo. Sugeri que se entregassem às polícias ou às Forças Armadas, depusessem as armas e não reagissem. Falei que não podiam descer comigo. Não tive pena. Falei que eles haviam buscado isso.
Por que os bandidos da comunidade escreveram numa carta que queriam matá-lo?JÚNIOR: Porque meu trabalho social à frente do AfroReggae incomodava.
Você ficou preocupado com essa ameaça?JÚNIOR: Eu tive um sentimento ambíguo. Fiquei chateado, pois eu tinha virado a bola da vez. Mas, ao mesmo tempo, a carta demonstrou o quanto eu incomodava. Tenho certeza que quando o Márcio (dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP) recebesse a carta, em Cantanduvas (Presídio Federal do Paraná), ele ficaria chateado e seria contra qualquer atitude contra mim. Foi uma atitude isolada de dois bandidos. Não era decisão da facção.
Você teve medo de morrer?JÚNIOR: Tenho 18 anos de AfroReggae e quatro filhos. Aquela carta me incomodou. Mas muitos moradores pediram para eu ir lá, embora integrantes do AfroReggae e policiais amigos meus desaconselhassem.
Algumas pessoas queriam que os bandidos fossem mortos, em vez de serem presos. O que você acha disso?JÚNIOR: Recebi mais de 9 mil mensagens pela mídia sociais. Cerca de 8.800 a favor da rendição dos bandidos. Mas também cheguei a ouvir policial dizer que se sentiu como um atleta que vai para a Olimpíada e não disputa, só porque não houve banho de sangue.
De quem é o mérito pelo resultado positivo da operação do Alemão, sem baixas dos dois lados?JÚNIOR: Do governador Sérgio Cabral e da polícia. Digo isso com a maior pureza da minha alma, como costumam dizer as carolas. Até agora, 18h14m (de domingo), a polícia teve um comportamento impecável. Várias pessoas me ligaram do Alemão e elogiaram a postura do Bope e da Core. Até pessoas que não gostam da polícia. Queria ajudar o governador. Ele não merecia um banho de sangue durante o seu governo.
Qual a sua análise geral para o desfecho na guerra contra os bandidos?JÚNIOR: O próprio bandido está cansado, pois eu nunca tirei tantas pessoas do crime como tiro agora. Pessoas novas e pessoas mais velhas. Tenho orgulho de ter tirado muitos traficantes do crime. No AfroReggae, temos 10 excepcionais mediadores. Todos eles atuaram no crime antes.
Triste ponto de vista
Acho que o Fernando Canzian, como eu disse que aconteceria, estreia a lista de críticas à ação do Rio de Janeiro. Comparo a crítica dele à chuva de protestos contra o Dunga, após o Brasil perder a Copa da África. Não tínhamos obrigação de ganhar, e não foi a primeira vez que o Brasil perdeu uma Copa, mas a intenção era detonar com ele.
Agora, nós vimos uma ação que tinha tudo para resultar num massacre, que não aconteceu. Teve falhas, sim elas existem, mas a polícia não tem a "obrigação" de vencer o crime. Ela "deve" lutar contra o crime. Dependendo da força aplicada, talvez o crime ganhe, como já aconteceu em outros países.
O Estado é forte, mas tem as limitações que todo Estado tem. O Estado não pode lançar mão de medidas que o crime organizado dispõe e usa: não pode assassinar, não pode causar terror, não pode torturar. Se faz, está errado. As limitações são grandes. Logo, não tem a OBRIGAÇÃO, mas sim o dever.
Rio: quem paga a conta?
Os favelados fluminenses que vivem há anos sob o terror de traficantes, milícias e policiais corruptos são os maiores financiadores da operação de "resgate" que o Estado iniciou na semana passada no Rio.
A perversão da carga e do sistema tributário do Brasil faz com que os pobres paguem, proporcionalmente, muitíssimo mais impostos do que os mais ricos.
Em tese, todo mundo come. Mas pobres e ricos pagam os mesmos 37% de imposto em um pacote de biscoito, 17% no quilo do arroz, 32% no açúcar, 26% em uma água sanitária. E por aí vai.
Como o rico ganha mais que o pobre, é o segundo quem compromete, proporcionalmente, grande parte do seu dinheiro para manter o Estado.
Segundo dados oficiais (IBGE e Ipea), a carga tributária sobre os pobres teria de cair 86% para se igualar à dos mais ricos.
Quem ganha até dois salários mínimos hoje compromete 49% de seu rendimento com impostos. Quanto mais pobre, mais tungado.
Portanto, é o pobre oprimido no Rio (pela conivência e desprezo desse mesmo Estado que o esfola com impostos, taxas e tributos) que deveria ter sido protegido, em primeiro lugar, de seus algozes.
Durante muitos anos, a polícia (que custa muito mais ao pobre do que ao rico) foi justamente quem ajudou a instalar a indústria do tráfico no Rio. Por não combatê-la ou por ajudá-la diretamente pela via da corrupção.
É, portanto, lamentável todo o ôba-ôba em torno da ação "heroica" das "tropas de elite" e outros superlativos a respeito do novo papel das polícias e das forças de segurança.
Eles não fazem mais do que a obrigação. São pagos (e extremamente caros aos favelados) justamente para fazer isso.
Pior. O que as ações das forças de segurança em ação no Rio revelam é que é muito mais fácil do que se supunha desmantelar a ação desses grupos de criminosos (des)organizados.
As imagens de traficantes fugindo como ratos para o morro do Alemão são emblemáticas. É só comparar as fotos nesta página.
São policiais financiados pelo dinheiro dos impostos com armamento pesado, coletes, etc., contra um bando de traficantes desdentados que (revelam termos de diálogos grampeados) parecem ter saído ontem de uma caverna neandertal.
Eles perderam muito em quatro dias. Centenas de motos e veículos, armas, munição e milhares de quilos das drogas que os financiam _além dos pontos de venda do produto.
Em menos de uma semana, a polícia e os fatos mostraram que, quando o Estado quer, não há nada que possa ser feito contra ele.
O Estado é o ente mais forte de um país normal.
A grande questão é: como ele é usado? Quais suas prioridades?
É preciso ter sempre em perspectiva: os pobres (a grande maioria) são os que mais financiam o Estado brasileiro com seus impostos.
É a eles, por justiça moral, que país deveria voltar suas prioridades.
Precisamos de uma trem-bala de R$ 33 bilhões financiado pelo Estado para a classe média viajar ao Rio ou SP?
Ou seria melhor acabar de vez com a opressão no Rio e coalhar essas comunidades com programas sociais? Ou eliminar o esgoto a céu aberto em centenas de favelas brasileiras, repletas de pagadores de impostos?
A resposta a essas perguntas é simples: quem vai pagar?
Fernando Canzian é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006 e é autor do livro "Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929". Escreve às segundas-feiras na Folha.com.
domingo, 28 de novembro de 2010
Teria faltado?
Operação em andamento
sábado, 27 de novembro de 2010
Artigo do José Padilha
Carcaça de uma sociedade
Por que o Rio de Janeiro é uma cidade tão violenta? Por que tem um número tão alto de homicídios e de assaltos todo ano? Por que grande parte da capital carioca, sobretudo as áreas mais carentes, está dominada por grupos armados? Por que a história do Rio é marcada pela repetição de acontecimentos traumáticos na área de segurança pública, acontecimentos que chamam a atenção do mundo?
Vigário Geral e Candelária explicitaram a violência absurda da polícia carioca. O sequestro do Ônibus 174 demonstrou a precariedade dessa polícia e deixou à mostra a violência de um ex-menino de rua que preferiu “tentar a sorte” a se entregar ao Estado que o torturou a vida inteira. O brutal assassinato de Tim Lopes mostrou que os traficantes cariocas não são Robin Hoods do morro, mas criminosos que utilizam métodos brutais. A tortura de jornalistas de O Dia por milicianos deu origem à CPI que revelou máfias de bombeiros, policiais civis e policiais militares no comando de comunidades carentes, com o apoio de vereadores, deputados estaduais e até deputados federais. E, finalmente, o ataque sistemático do tráfico a vários pontos da cidade, e a reação subsequente da polícia, “desentocou” um verdadeiro exército armado na Vila Cruzeiro e o expôs para todo mundo ver.
Afinal, por que o Rio de Janeiro é assim?
Uma resposta, a da esquerda naïve, postula que a violência no Rio de Janeiro decorre da miséria e da luta de classes, e diz que para combatê-la é necessário acabar com as diferenças sociais, distribuir a renda e educar a população. Há também a resposta da direita naïve, que reduz a violência do Rio a um problema de repressão e diz que ela se explica pela falta de firmeza da polícia e das leis.
As duas respostas estão erradas, contradizem fatos conhecidos.
A primeira não dá conta de cidades que têm índices de desenvolvimento humanos (IDH) piores do que os do Rio de Janeiro e índices de violência menores. A segunda está na contramão da história, que demonstra que incrementos na repressão podem piorar os índices de violência. Foi assim no governo Marcelo Alencar, quando o Estado adotou a remuneração faroeste e passou a premiar os policiais em função do número de criminosos que “abatiam”. A partir daí, o número de autos de resistência, de policiais que declararam ter matado criminosos que resistiram à prisão, cresceu e continua absurdo até hoje.
Muitas vezes, o passo mais importante para encontrar a solução de um problema é enunciá-lo corretamente. Ônibus 174, Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 são uma tentativa de enunciar o problema da segurança pública do Rio de Janeiro a partir da premissa de que a violência carioca resulta, em grande parte, da atuação direta de instituições públicas que convertem miséria em violência. À luz dessa premissa, a violência urbana está relacionada à falta de educação e à concentração de renda, mas a relação não é direta e simples, é intermediada por fatores complexos. Acredito que no Rio o mais importante desses fatores seja o efeito perverso que certas organizações administradas pelo Estado têm sobre parte da população.
Ônibus 174 conta a história de Sandro Rosa do Nascimento, um menino que fugiu de uma tragédia familiar e foi viver nas ruas do Rio. Sandro se tornou um pequeno criminoso para sobreviver. Como menino de rua, viu representantes do Estado (policiais militares) matar crianças como ele na Candelária, foi preso e tratado com extrema violência pelo sistema socioeducativo do Estado, foi espancado e obrigado a conviver com traficantes e criminosos muito mais violentos que ele no Instituto Padre Severino e deu entrada no sistema prisional carioca, onde o Estado o colocou em uma cela superlotada e insalubre. O torturou por anos.
A tese de Ônibus 174, exemplificada pela trajetória de Sandro, é muita clara: as organizações que deveriam reeducar os pequenos criminosos os convertem em criminosos violentos. Não fui eu quem formulou essa tese, diga-se de passagem. Foi o próprio Sandro, que a gritou em altos brados da janela do ônibus para quem quisesse ouvir.
Em Tropa de Elite tentei dizer que a mesma coisa acontece no âmbito da polícia. O Estado trata muito mal os indivíduos que se propõem a trabalhar nas organizações policiais. Paga pouco, treina mal, e os submete a uma cultura organizacional militarizada e kafkiana, que tolera a corrupção e estimula a violência. Como disse o capitão Nascimento: “Quem quer ser polícia no Rio de Janeiro tem que escolher: ou se omite, ou se corrompe, ou vai pra guerra”. Tanto a violência e o desrespeito aos direitos humanos do capitão Nascimento quanto a corrupção desenfreada do capitão Fábio são forjadas no mesmo lugar, pela mesma organização. Certa feita um governador do Rio de Janeiro disse a mim e ao jornalista Rodrigo Pimentel que Tropa de Elite era um filme demasiado pessimista. Em sua opinião, a PM do Rio não era tão corrupta quanto pensávamos. Pelas suas contas, um terço dos policiais do Rio é corrupto, outro terço é honesto, e o restante variava conforme o comando. Se a PM do Rio tem mais de 13 mil homens corruptos, então o problema não são seus homens, é a organização. Os policiais do Rio de Janeiro são vítimas da PM.
A tese de Tropa de Elite, instanciada na trajetória do aspirante André Mathias, é igualmente óbvia: as instituições que deveriam combater a criminalidade convertem boa parte das pessoas que trabalham nelas em policiais corruptos e violentos. Fazem isso com grande eficiência e em altas taxas.
Acredito que cada um dos casos simbólicos que listei, de Vigário Geral à tomada da Vila Cruzeiro, ilustra essa tese. Cada um deles envolve traficantes, policiais corruptos e policiais violentos cuja subjetividade e comportamento criminoso foram moldados por instituições do Estado.
Fiz um terceiro filme, Tropa de Elite 2, para tentar dizer por que o Estado funciona assim. Em Tropa de Elite 2 o capitão Nascimento é promovido a subsecretário de inteligência e obrigado a lidar com as conexões que existem entre a polícia e a política. São essas conexões, muitas vezes calcadas em interesses e lógicas eleitorais, que criam e mantêm as instituições que descrevi nos filmes anteriores.
Voltando ao mundo real, deixo claro que apoio as UPPs e sou favorável a esse projeto do governador Sérgio Cabral. Reconheço que ele é fundamental para recuperar o território que o tráfico tomou. Acredito que o Rio não pode recuar no primeiro confronto. Todavia, acho que o projeto das UPPs é apenas meio projeto, e não um projeto inteiro. Onde está a reforma da polícia? Não a maquiagem, mas a reforma concreta, o programa eficiente de seleção e treinamento de policiais, o programa de capacitação profissional, o pagamento de salários dignos, o seguro saúde e o auxílio-educação para as famílias dos policiais? Onde está a corregedoria que funciona? Onde está a reforma do sistema prisional? A capacitação dos agentes penitenciários? A reforma do sistema socioeducativo? A boa formação dos seus operadores?
O projeto das UPPs é fundamental para a sobrevivência do paciente, mas ignora as causas da doença. Na ausência de uma real reforma das instituições que mencionei, o esforço e o engajamento da população carioca no projeto das UPPs pode ser em vão. Afinal, quem vai ocupar as comunidades libertadas? A mesma polícia que conviveu com o tráfico de drogas na cidade por mais de 30 anos, o viu crescer e se expandir e o deixou se instalar. O projeto das UPPs não é um projeto da polícia, é um projeto do governo. O que garante, no médio ou no longo prazo, quando este governo sair e outro entrar no lugar, que as UPPs não se tornarão áreas de milícia?
Eu me lembro, na ocasião do Ônibus 174, que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi à TV prometer um plano nacional capaz de reformar as instituições ligadas à segurança pública em todo o Brasil. Teve dois mandatos para cumprir a promessa, e não o fez. Depois veio o atual presidente Lula, do PT. Apresentou um Plano Nacional de Segurança bem bolado, escrito pelo professor Luiz Eduardo Soares. Estamos ao final do seu segundo mandato e o plano continua engavetado. Finalmente, não vamos esquecer o PMDB, do governador Sérgio Cabral, que em ambos governos nada propôs de significativo na área da segurança. A verdade é que nos últimos 30 anos nossos políticos ficaram vendo inocentes morrer. Lavaram as mãos.
O que aconteceu no Rio de Janeiro nessa semana foi significativo. Creio que vai acontecer de novo se o governador insistir com as UPPs. E, como a Copa do Mundo e a Olimpíada estão aí, não há outra alternativa viável. Os confrontos serão inevitáveis e recorrentes. Espero que esses confrontos sirvam para, além de libertar comunidades carentes, forçar o governo federal a entrar de cabeça na luta contra o crime e implementar um plano de nacional de segurança sério, capaz de resolver de uma vez por todas o problema da segurança pública no Brasil.
JOSÉ PADILHA É CINEASTA E DIRETOR DE 'ÔNIBUS 174', 'TROPA DE ELITE', 'TROPA DE ELITE 2', 'GARAPA' E 'SEGREDOS DA TRIBO'
Momento Histórico por causa de um filme?
Guerra na noite
Rendição?
Próximos passos
Cabeça no lugar
Podemos acreditar que temos heróis?
Legalização já? Como?
O músico Marcelo D2 comentou que já havia cantado a pedra sobre a guerra civil que estava prestes a explodir no Rio de Janeiro. Bem, ele e mais quantos?
A situação já era esperada e é, como o José Padilha, diretor de Tropa de Elite 1 e 2 disse, é resultado de uma ausência de uma política de segurança pública.
Agora, no meio do fogo cruzado, alguns dizem que a saída é a liberação das drogas. Mas será mesmo?
Autoridades de segurança em vários pontos do planeta concordam com isso. Sai mais caro tentar reprimir o tráfico do que liberar e tentar fazer uma política de redução de danos. Isso porque, legalizada, a droga vai render impostos. Será?
Temos nesse ponto dois problemas. Assim como existe DVD pirata, cd pirata, remédio pirata e cigarro pirata, vai haver droga pirata no mercado. O estado vai gastar para conter mais esse negócio sujo.
O outro problema é que parte do crime organizado, ao ver caírem os lucros das drogas, partirá para outra atividade criminosa, que vai requerer, também, o combate por parte do estado.
Daí teremos 3 problemas:
- as drogas piratas, que não recolhem imposto;
- o combate a outras modalidades de crime, como seqüestros e assaltos a bancos;
- o aumento do consumo de drogas, gerando “crackolândias” em praticamente todas as cidades do país.
Daí eu pergunto: vale a pena liberar a droga?
Vale do ponto de vista do consumidor, que vai tirar um peso da consciência. De resto, só tende a piorar, com o aumento da oferta, a facilidade de compra e o aumento do consumo. Piora também porque reforça duas outras modalidades de crimes.
No entanto, a liberação das drogas contempla o aspecto da liberdade das pessoas, e isso é positivo.
Mas se a pergunta é liberar já, a resposta só pode ser não. É preciso enfraquecer o crime, debelar as quadrilhas de traficantes, prender os grandes barões da droga no Brasil, mudar conceitos, aumentar o IDH. Só isso...
veja neste blog mais artigos sobre a crise no Rio textosecreto.blogspot.com
Salário e treinamento
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Explicando melhor
O blog oficial da Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS) postou durante algumas horas hoje um de meus artigos aqui do blog texto_secreto. Deu uma baita confusão. Muita gente parece não ter entendido o meu estilo seco de escrever. O post em questão foi "A Grande Discussão" e um trecho em especial causou furor entre os frequentadores daquele blog:
"Os eventos recentes no Rio de Janeiro vão, provavelmente, levantar muita discussão. Um dos motivos é óbvio: a questão dos direitos humanos. Depois que o ímpeto dos soldados do tráfico diminuir, quando eles perceberem que perderam a "parada”, vão levantar as mãos, jogar as armas no chão e posarão de vítimas. Os policiais, ainda sob o forte efeito do estresse do combate, vão descer a lenha. Ativistas dos direitos humanos vão lascar a ripa em cima dos policiais e perderemos a chance de dar um forte baque no crime organizado."
Mas acho que cabe uma explicação sobre o trecho "perderemos a chance de dar um forte baque no crime organizado"
Não estou dizendo que o baque será o extermínio, mais uma vez. O que disse é que a partir do momento em que ativistas, imprensa e sei lá mais quem cair de pau em cima das forças do Estado por causa dessas mortes a ação perderá força, será desvirtuada, como já aconteceu outras vezes. Por isso citei que "Ativistas dos direitos humanos vão lascar a ripa em cima dos policiais". Ou alguém imaginou que eu disse que os ativistas exterminariam os policiais?
Opinião todo mundo tem, mas acho que é uma questão de lógica julgar que essa ação, nesse momento, precisa ser executada com a força necessária para sustar o poderio dos traficantes, e seguir adiante com a intensidade suficiente para desestimular de uma vez por todas a adesão ao tráfico. E ainda mais, como disse em outro post: sufocar o crime organizado para que ele, na tentativa de conseguir "mais ar", acabe colocando a cabeça para fora.
Isso seria exatamente o ato dos "mandantes" verdadeiros acabarem se expondo, porque está claro, há muito tempo, que os chefões do crime organizado no Brasil não estão nos morros cariocas. Até mesmo porque o crime organizado no Brasil não se resume ao tráfico de drogas no Rio.
Mas a verdade é que seja no Brasil, na França ou nos Estados Unidos, os grandes chefões do crime organizado estão muito bem blindados. Não é fácil levantar provas e muito menos condenar. Mas uma coisa é verdade: quando são presos, geralmente não recebem a polícia à bala. Vide o caso da prisão do Daniel Dantas, não é verdade?
Espero que as coisas fiquem mais claras assim.
Hipocrisia
Matar ou prender?
A grande discussão
Os eventos recentes no Rio de Janeiro vão, provavelmente, levantar muita discussão. Um dos motivos é óbvio: a questão dos direitos humanos. Depois que o ímpeto dos soldados do tráfico diminuir, quando eles perceberem que perderam a "parada”, vão levantar as mãos, jogar as armas no chão e posarão de vítimas. Os policiais, ainda sob o forte efeito do estresse do combate, vão descer a lenha. Ativistas dos direitos humanos vão lascar a ripa em cima dos policiais e perderemos a chance de dar um forte baque no crime organizado.
É bom imaginar que o estresse de combate é algo inevitável. Não há treinamento que impeça um combatente de sentir medo de morrer, que não deixe uma pessoa furiosa com outra que está disparando um pente de 40 balas em sua direção. Depois de passar minutos, horas, dias sem saber o que vai acontecer no próximo minuto, qualquer combatente fica muito p... da vida com os caras que estão do outro lado.
Foi preciso que duas obras de ficção conseguissem emocionar o país para que hoje comece a se tornar senso comum que o consumidor de drogas é o responsável por colocar um AR 15 na mão de bandido. O bom senso e a lógica nunca funcionaram tão bem quanto a exibição de dois filmes policiais. A verdade é que o ser humano assimila melhor informações quando está emocionado. Os gregos sabiam disso desde a Antiguidade e os professores de cursinhos também.
Uma outra lição precisa ser dada agora: o crime organizado não é nada sem soldados. Os “capos” precisam da bucha de canhão nos favelas, e os soldados – que são as tais buchas de canhão –somente vão desistir de suas funções quando perceberem que o risco não vale a pena.
E como se faz isso?
De duas formas: enviando ativistas de Direitos Humanos hoje para o front no Rio de janeiro para convencer os caras na conversa;
Ou usando nossos forças policiais e militares para mostrar que as nossas cidades não são casa da mãe Joana.
Os soldados do crime organizado precisam ficar apavorados, precisam ter certeza de que não vão voltar para casa, precisam saber que vale realmente a pena desistir de seus planos de grandeza à custa do terror da sociedade. Por um bom motivo: continuarem, vivos.
Precisamos dessa etapa no combate ao crime. Não vamos chegar aos “generais” do crime organizado enquanto houver soldados no meio do caminho. Simplesmente não existirá essa mágica. E por que não?
Pela mesma lógica que diz que o usuário de drogas coloca o RPG7 na mão de bandido. Enquanto houver condições de ser soldado do tráfico, ganhando cinco mil por semana, o cara vai ser.
Isso é crueldade? É sim.
Mas não tem outro jeito. Enquanto houver um ativista achando que entende mais de estresse de combate do que um homem do Bope, vamos ter uma discordância acerca do que é certo e o que é errado, simplesmente porque vai ter gente falando bobagens acerca do que não entende. E isso se chama hipocrisia. O tipo de coisa que duas obras de ficção estão fazendo o País entender, mais do que qualquer discurso racional.
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