Isso se estou em Brasília. Se estou em Rondônia, onde também trabalho, acordo antes, devido à diferença de fuso horário. No final de semana, o meu subconsciente me dá uma folga.
No entanto, de umas semanas para cá, não adianta meu cérebro ficar relaxado. Começaram uma obra ao lado de meu prédio, para construir um novo edifício. Antes mesmo da construção ser erigida, prometendo acabar com a boa visão do Plano Piloto iluminado à noite, o barulho se revela uma maldição.
Maquitas, batestacas, serras elétricas e sei lá mais quais máquinas começam um fantástico trovejar, cacarejar ou cracatoar insano já cedo. Penso que os engenheiros que projetam máquinas para a construção civil medem a eficiência de suas engenhocas por decibéis liberados.
Acordei hoje e fiquei olhando para a obra com um olhar que o piloto do Enola Gay deve ter lançado para Hiroshima minutos antes de puxar a alavanca abrindo a barriga do avião.
"Preciso fazer algo", pensei, com o maxilar tenso e uma das pálpebras tremendo. Não eram nem 8h30min e já pensava no risco de um AVC.
Usar o lança-foguetes RPG-7 que ganhei de minha avó na primeira comunhão estava fora de cogitação. Vovó nunca perdoaria o emprego de uma peça de família para uma finalidade tão... digamos, mundana. Com a devida manutenção o presente poderia ser repassado para meu menino mais novo quando chegasse a hora.
Tentar embargar a obra com a alegação de que atrapalha a nascente de um rio! Isso funciona. Com a morosidade de nossa Justiça, levaria um ano e meio para descobrirem que não há rio algum e depois ganharia mais três anos com embargos declaratórios. Mas havia o risco de ter que pagar as sucumbências...
Arquivei a estratégia legal ao lado do RPG-7 de fabricação russa e tratei de rabiscar, sobre a minha prancheta de desenhos ACME uma outra estratégia para interromper ou anular a obra, de uma vez por todas - enquanto aquelas máquinas continuavam com seu matraquear salpicado de concreto e vergalhões.
O que eu precisava? De um motim, talvez. Os trabalhadores negando-se a prosseguir com o trabalho por um motivo que fosse totalmente deles, com o qual eu não tivesse ligação - direta - nenhuma. Nenhum tipo de prova, mas eficiência total. Operários de braços cruzados, máquinas silenciosas e sono tranquilo ao sábado...
Examinando as fotografias aéreas que fiz do canteiro de obras (do terraço de meu prédio) percebi que no meio do terreno havia uma grande poça de lama. Sim, lama.
Daí veio o insight!
Scooby Doo.
Sempre funciona a estratégia Scooby Doo, ainda mais com lama no meio.
Vou criar um MONSTRO DA LAMA que vai apavorar os operários, que vão interromper o trabalho exigindo mais segurança!
Para quem não entende, a estratégia Scooby Doo é aquela que os vilões do desenho animado homônimo sempre utilizam para tirar alguém de algum lugar, geralmente usando fantasmas, monstros e etc. Sempre funciona no desenho, até que Salsicha, Velma, Dáfini, Fred e Scooby aparecem.
Eles comprovam que o fantasma ou monstro ou sei lá o que não passa de uma fantasia e pronto, o plano vai por água abaixo, com o vilão dizendo: "Teria dado certo se não fossem esses malditos garotos!"
Meu monstro da lama pode dar certo e a obra pode ser interrompida. Preciso de quê? Como é um monstro da lama?
Passei horas fazendo desenhos de monstros andrajosos, melequentos e enlameados.
Mostrei para meu guri mais novo e ele riu de todos.
Se não assusta um moleque de nove anos...
Voltemos à prancheta da ACME, em meio à barulheira da obra ao lado, de onde olho ansiosamente para o canto do escritório, onde está guardado o meu RPG-7.
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